quarta-feira, 6 de novembro de 2024
Análise do Tipo de Texto, do Género, das Sequências Textuais e dos Mecanismos de Coesão e Coerência em “A Busca de um Sonho” de Andes Chivangue”
domingo, 27 de outubro de 2024
Os professores de português podem contribuir muito para o desenvolvimento do nosso "sistema" literário
Há qualquer coisa que me intriga nos professores. Parece ser a classe de profissionais que mais se envolve em actividades de transformação da nossa sociedade na dimensão política e social, sobretudo. Não saberia dizer se tais acções são positivas, patrióticas, pertinazes, inglórias ou fraudulentas. O facto é que são acções vistas por todos nós. Ou mais, de uma forma ou de outra, impactam nas nossas vidas, incluindo em dimensões das quais eles próprios se queixam. Cabe, a título de exemplo, mencionar a qualidade de ensino; as dificuldades de leitura e escrita; a iliteracia digital; acções fraudulentas dentro e fora do contexto escolar.
É exactamente neste quesito que o título deste texto encontra chão fértil para ganhar vida e gerar frutos.
O conflito entre o domínio da língua e a liberdade estética na actual produção literária moçambicana
"do que vem sendo produzido, é notório o crescimento do valor estético das obras que vão sendo publicadas, pois as condições de interação entre a crítica e a escrita também melhoraram e, por outro lado, nota-se também que já se confunde cada vez menos o que é mau domínio das linguas e liberdade poética"
Lourenço do Rosário
Não gosto de ser mal percebido nestas coisas de emitir opiniões sobre isto e aquilo. Quem gosta? Cogito, seriamente, na hipótese de passar a incluir ilustrações neste exercício, como uma espécie de tutorial para o manuseamento de uma ferramenta, do mesmo modo como o fazem os usuários do YouTube. Quem sabe ainda consigo ter lá algumas visualizações que me possam render moedas para chancelar estas ideias num volume.
A (ir)relevância de estudar literatura e linguística para se ser escritor
"Nunca tive de ouvir o hip-hop tuga para o fazer." Inicio a minha intervenção com esta frase de Sam The Kid, um rapper português que tem muito a dar aos poetas da minha terra e geração. Entre excessos de egotriping, há, nesta frase, uma verdade. Não é coisa que se possa buscar e aplicar ao contexto da escrita e dizer, com bastante infelicidade, que nunca se leu literatura para a fazer. Seria inglório, para não dizer pior.
Sei que há muitos casos de poetas/escritores que têm uma relação umbilical com o rap e um contacto mais tardio com a literatura. Embora eu seja defensor deste fundamento para subsidiar relações intertextuais entre a escrita desta geração com o rap, isso não quer dizer que assuma a ideia de alguém dizer que nunca leu os outros para escrever: não é uma declaração honesta.
Será a coerência um elemento dispensável no texto poético?
Gosto da possibilidade de ter outros campos de saber a contribuírem para a compreensão dos estudos literários, ou, pelo menos, dos textos produzidos neste domínio de realização discursiva.
Dentre tantos, existe
um que se interessa pela explicação dos modos de composição e sequencialização
textual, culminando com a descrição dos mecanismos internos ou externos ao
texto que condicionam a interpretação das unidades que nele coexistem.
Embora o texto poético (ou literário, em geral) se beneficie de uma certa especificidade do ponto de vista da sua composicionalidade e estilo, por estar na categoria de texto, precisa, sim, de conter algumas propriedades que o possam garantir alguma sobrevivência na relação autor-contexto-código-canal-leitor.
o que gostaria que me tivessem dito quando comecei a me interessar pela escrita/poesia?
Nos últimos tempos, ando metido em actividades de revisão/edição de textos e pouco ou nada tenho feito relativamente a um ofício me dá imenso gozo: ler, de forma crítica, os outros. Mas a vida é mesmo isto. As actividades generosas não nos dão gozo e as que nos dão, não são tão generosas.
Enfim, são
"coisas da vida" como disse Milton Nascimento. Tirando essas
lamúrias, tenho aprendido bastante. Parte desse aprendizado vem em forma de
déjà vu. Surge daí o sentido da pergunta que intitula estas linhas.
Imagino-me, então, numa conversa em que alguém me pudesse ter dito:
domingo, 20 de outubro de 2024
Da floresta sagrada de Chirindzene às cobras que assobiam ou aos guiguisekas: encontros e distanciamentos entre lendas tradicionais e urbanas na visão de Núñez (2012)
1.
Lendas tradicionais e
urbanas: encontros e distanciamentos
No texto “Lendas tradicionais e lendas urbanas: uma revisão conceitual”, Núñez (2012, pp. 74 – 91) começa por contextualizar o âmbito em que se discute o conceito, entre o académico e o extra-académico. Diante desta estratificação, o autor destaca o que considera “definições convencionais de natureza bastante indeterminada”. Assim, pontua que “lendas urbanas são relatos pertencentes ao folclore contemporâneo que, em que pese conter elementos sobrenaturais ou inverosímeis, se apresentam como crônicas de feitos reais sucedidos na atualidade”. Alguns destes relatos partem de eventos reais, mas em tom exagerado ou misturados com dados fictícios.
sábado, 6 de abril de 2024
“na escrita lavo-me de tudo: é nela que a minha alma encontra paz”
É daqueles brôs que a literatura me deu. Há um par de anos, eu passava a vida fazendo graça com a sua rotina profissional e pessoal. Dizia-lhe: “é o gajo que vive em Chókwè, e dorme em Guijá”. Fazia esta graça partindo do pressuposto de que a gente vive onde trabalha. Hoje passo exactamente pela mesma situação, entre Chongoene e Xai-Xai. A vida é assim; prega-nos algumas partidas. Lembro-me, até, de um provérbio tsonga que se refere a isto: “não te rias do rastejar da cobra, porque as outras que estão nos ninhos te estão a ver.”
Mas, prontos, não foi por isso que eu parei de fazer graça com a circunstância profissional e pessoal do homem. Fi-lo quando percebi que tem uma relação intrínseca com o distrito de Guijá, que, se calhar, não se encontre em alguns nativos daquela topografia gazense.
quinta-feira, 4 de abril de 2024
"É possível viver de poesia. O importante é que as pessoas descubram as oportunidades que a literatura tem."
quarta-feira, 20 de março de 2024
“a escrita ajuda-me a entender melhor a mim mesmo e ao mundo ao meu redor”
segunda-feira, 18 de março de 2024
“através da literatura, tornei-me em alguém que outras pessoas desejam ser”
Despertara esta componente entre os anos 2012/2013. “Comecei a notar que o que escrevia não me pertencia: era propriedade dos outros. Entendi, desta forma, que ao publicar os textos que escrevia, incentivava outras pessoas a lerem ou a se interessarem pelo mesmo ofício.”
sábado, 16 de março de 2024
“Teria enveredado para o mundo da prostituição ou das drogas. Mas encontrei, na escrita, um porto seguro”
quinta-feira, 14 de março de 2024
“a poesia tem-me dado oportunidade de viajar pelo país inteiro”
Projecto Ciclo de conversas "Ganhos do Percurso"
quarta-feira, 13 de março de 2024
“Escrever permite drenar, no papel, as frustrações do indivíduo e transformá-las em objecto de arte”
Desta vez, a conversa foi ao encontro do Escritor. Nesta qualidade, adopta o pseudónimo de Rey Mataka VII. Para si, a escrita deixou de ser um hobby para se tornar numa actividade mais consciente, a ponto de pensar em publicar um livro, a partir da altura em que começou a interagir directamente com outros escritores. Cá entre nós, é uma consciência tardia, se considerarmos que escreve poesia e prosa desde 1992. Vês, já lá vão 32 anos. Sim, isso mesmo: 32. Durante muito tempo escrevia de si para si. Não partilhava. De alguns anos para cá, passou a participar de lançamentos de livros, saraus culturais em Maputo e em Gaza.
A Influência do Rap na Produção Literária Moçambicana Pós-2000: diagnóstico de [possíveis] interfaces discursivas[1]
1. Considerações iniciais
A partir da segunda década do século XXI, regista-se, no mercado livresco
moçambicano, a publicação de várias obras de autores moçambicanos jovens,
muitos deles estreantes embora já tivessem publicado textos em antologias e
periódicos nacionais e estrangeiros.
Tal geração de escritores, nascida entre os anos 80 e 90, publica os seus
primeiros livros neste período caracterizado por uma massificação de editoras
independentes, de associações e festivais literários, de periódicos
electrónicos (sites, blogs, vlogs, revistas, fanzines, etc.) que, estando à
margem dos canais “oficiais”, marcam a pauta literária deste tempo tal como
acentua a Professora Fátima Mendonça em texto publicado no jornal O País, dia
05 de Setembro de 2017, nos seguintes termos:
São uma geração das novas tecnologias, aberta a um mundo em que as fronteiras se tornam porosas, que conscientemente aproveita as vantagens dos caminhos abertos pela Internet, no Facebook, nos blogs em todo esse aparato tecnológico que integra soluções culturais para o nosso presente e que no caso de países como Moçambique em que existe uma hipertrofia dos grandes centros urbanos, permite colmatar as assimetrias existentes.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024
Tasaver: feliz foi Camões, que tinha um olho para uma só musa
…esta coisa da
militância multipartida pela leitura e escrita literária não é de hoje no
contexto moçambicano. Não é preciso que haja uma pesquisa exaustiva para
perceber isso. Basta ler a biografia de um autor para perceber que além da sua
entrega como poeta, cronista, contista, romancista ou outro “ista”, o mesmo
desenvolvia actividades adjacentes ao livro/escrita: Jornalismo, Edição,
Revisão, Crítica Literária, etc. Ninguém teve uma só musa. Tinham todos de se
repartir entre escrever e criar condições para que o livro chegasse ao leitor.
Vale, no entanto, ressaltar que, nestes tempos pós-2000, há uma entrega muito mais ousada e contra-hegemónica. Com a “morte” das páginas culturais nos jornais (repito, culturais, não musicais nem de entretenimento), a internet, na sua constante busca pela afirmação enquanto quinto poder, dá ferramentas digitais para que os jovens, independentemente de onde estiverem, contribuam sobremaneira para movimentar o sistema literário. É mesmo isso: movimentar, gerar debates, informar, criar alaridos, coisas assim. Quer queiramos, quer não: a coisa funciona, até certo ponto.
domingo, 28 de janeiro de 2024
António Carneiro Gonçalves: um paradigma de se ser escritor para a escrita e para o mundo
Recebi, há dias, uma chamada de Lino Mukurruza. Entre uma cavaqueira e outra, veio o desafio: “estamos a organizar um colóquio de letras e, desta vez, homenageamos António Carneiro Gonçalves. Gostaríamos que fosse um dos oradores acerca d’A Escrita de Anton”. Daí para frente a conversa tornou-se numa partilha de memórias de textos que compuseram o imaginário de muitos moçambicanos nascidos entre a década 80 e a primeira metade da década 90 do século passado.
Quem, desta geração, não se recorda dos textos “A Gruta de Cantaia; Malidza; e A Mulher do Escritor”? São textos que compõem manuais de Língua Portuguesa que eram usados para o ensino naquela época e ficaram na memória: eram dias e mais dias de leitura e interpretação textual. Este último (A Mulher do Escritor) encantou-me imensamente. Sempre li este texto encarnando o personagem em causa e sonhava com esta coisa de tentar ser escritor. Talvez num dia desses, bem distante, me torne num.
sábado, 27 de janeiro de 2024
As Calças do Noivo
Cá entre nós, ninguém pensa nestas coisas. É muita
trigonometria, morfemas, pontos de fuga e tantas equações quadráticas desta
vida que na prática não nos servem objectivamente.
“Se eu soubesse. Se eu soubesse”. Repetira pela noite
adentro como se tal se tratasse de um terço.
Sancho Winani fora sempre um estudante dedicado. É na escola que o farol acendia para que a vida fizesse sentido debaixo dos olhos do Senhor. Estudar, trabalhar, casar e constituir família. Não é essa a sina? De todas, a que mais foi amaldiçoada fora a escola. Com o trabalho já se tinha resolvido. Com o casamento e a família já havia sinais de um rumo: afinal, ia apresentar-se na família da namorada.
Crítica Literária _ Para quê? Por quê? Para quem?
…a gente até tenta, mas está difícil, Senhor Professor.
Escrever sobre livros e seus autores é uma tarefa inglória, como bem pontuou o Professor Nataniel Ngomane numa entrevista concedida a Cláudio Fortuna, publicada na Revista Angolana de Sociologia, em Abril de 2011, ao problematizar esta função nos seguintes termos: “quanto é que ganha um crítico por escrever um texto de crítica? Deixa de fazer as suas coisas, escreve um texto crítico… e não recebe nada por isso. Não será, este, um grande problema? Porque as restantes profissões são pagas para fazerem o que estão a fazer. Quem é que paga a crítica? Quem respeita a crítica? Quem dá valor à crítica? As pessoas pedem sempre para fazer um prefácio, uma apresentação dos seus livros. Quanto se ganha por isso? Imaginam quanto se despende para fazer isso?”