terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Entre âncoras e progressismos dos “novos painelistas” do debate sobre a criação literária

…não há, de um lado, o abstrato e, de outro, o concreto.
Forma e conteúdo são da mesma natureza, sujeitos à mesma análise.

Levi-Strauss 

Este pensamento de Levi-Strauss continua sendo actual e atuante nos dias de hoje, pelo menos no cenário literário moçambicano cujas ilações chegam-me por via da mera observação e, haja humildade, pelo bastante incipiente envolvimento.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

guinada salomónica


…vivera maticado de argila,

o meu coração de devoções insignes

porque as juras eram monógamas

tal e qual pregara o pergaminho

que atracara na imensidão

dos nossos cais vindo de latitudes outras 

com invernos fartos e verões pobres.

sábado, 5 de dezembro de 2020

Casa 30: um deadline com nuances diferentes nas sinfonias de K7’s Azuis e de Gasso

Falar da relação intertextual sem alicerçar o conceito de texto num porto seguro é de longe uma atitude arriscada. Para alhear-me disso, é-me oportuno referir que há-de se entender como texto “qualquer tipo de comunicação realizada através de um sistema de signos (quer se trate de um poema, uma música, uma pintura, um filme, uma escultura, etc)” GOUVÊIA (2007: 58)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Merry Khessemussi


...este desaire de alegrias leitosas

com que o fulgor dezembrino me brinda, 

esfervilha a carne descoberta

por que passa este líquido, 

sem que lhe ocorra que 

as feridas em que baila e tirlinta

foram, também, lar de pousio

das balas de AK-47 e outros tubos

por que a pólvora migra...

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Para uma reflexão sobre a imagem em “o silêncio da pele” & “mundo blue (ou o poema em quarentena)”

Dir-se-á que há, em Moçambique, um esforço de revitalizar a assunção (que é já um lugar comum) de que somos uma nação de poetas. Que a revitalização ocorre, todos sabemos. Quanto ao esforço empreendido, haverá reservas decorrentes dos sinais duma naturalidade possível de encontrar em Otildo Justino Guido e Pedro Pereira Lopes nos seus “O Silêncio da Pele” (doravante OSDP) e “Mundo Blue (ou o poema em quarentena) ” _ doravante MB, respectivamente.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Karinganas do Índico ou um convite à instrospecção sobre as (in)adequações das estruturas canônicas

Para o leitor informado, é difícil ler as 11 narrativas de “Karinganas do Índico” sem fazer uma introspeção sobre a linha ténue que faz endereço entre o conto e a crónica ou, mais profundamente, sobre a textualidade que os textos devem (ou não) a um cânone que se quer universal no acto de narrar

Da autoria de Minyetani Khosa, pseudónimo de Félix Paulo Cossa, “Karinganas do Índico” sai pela Editora Kulera que como já nos acostumou nesta sua fase embrionária, permeia esta obra com um desenho gráfico que pouco ou nada deve mesmo aos mais exigentes.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Okolo: herói ou epíteto de uma busca inglória em “A Voz” de Gabriel Okara?

O Génio é para si próprio a sua própria recompensa,

 porque aquilo que cada um é de melhor

deve sê-lo necessariamente para si mesmo”

Arthur Schopenhauer

Se mesmo na condição de um personagem que sustenta um romance impactante, Okolo tivesse interiorizado esta famosa e intrigante frase de Arthur Schopenhauer, a sua função (entenda-se acção do personagem definida do ponto de vista de seu significado no desenrolar da intriga) no enredo de “A Voz” teria sido diferente da que se lê nas 135 páginas desta reedição feita em 1980 pela Edições 70, com a tradução (de inglês para português) de Maria Cristina Rocha.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

A (im)precisão dos três mil pregos


Mirando, taciturno, os bramidos de um mar que é de per si um habitat natural de peixes e quejandos, espraia-se na incredulidade, partilhada com os seus, de conceber gases liquefeitos nas profundezas do mar mas a chuva de precariedade que lhe cai pelo teto descoberto alia-se à vozearia do seu servo que em cada fim de frase remata um «do mar, trarei três mil pregos» e deposita-lhes, então, uma súbita e religiosa certeza.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Poeta ou Poetisa (?) Louise Glück divide falantes de português em dois: neologistas e puristas

Que Louise Glück é Nobel de Literatura 2020, o mundo já sabe. Ora, que este facto fez com que a norte-americana poet(is)a reencarnasse o centro de um debate que andava já esquecido no universo literário da quarta língua mais falada no mundo, tenho imensas dúvidas de que ela própria saiba.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Retroalimentações do Ego

Este é um ebook dedicado aos que de tantos pecados, escolheram a gula pela leitura para sintetizar a sua imperfeição, enquanto humanos. Você pode comprar a qualquer hora e em qualquer lugar n´O Ardina Digital. O pagamento é online pelo M-pesa ou PayPal, é só clicar na opção “Comprar” e seguir as orientações que aparecerem no ecrã.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Vácuos

…esta rua migrante
que passa por minhas veias
qual águas de um rio farto
perpassando velhas
e costurando novas geografias,
fizera Vera Micaia travestir o poema
inda que sonho fosse...

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Façamos um close up ao apelo contra a mediocridade!

Quando somos estonteados por algo que, aparentemente, nos fere a alma impele-se-nos uma bruma que nos faz migrar pelos túneis dos falsaportes (na assunção miacoutiana do termo) sem nos darmos conta de que os ferimentos são mais passionais senão estomacais.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Prêmios versus Castigos & Rupturas versus Continuidades em “Ilusão a Primeira Vista” de Almeida Cumbane


O diálogo com a narrativa oral no universo literário moçambicano (para não dizer africano mesmo com poucas credenciais para o efeito) é já uma premissa adquirida, partilhada e aceite sobretudo por aqueles que observam este fenômeno de fora para dentro. Para esses, a narrativa escrita que foi sendo feita ao longo do tempo, apresenta-se-lhes como um palimpsesto da narrativa oral talvez pelo discurso modesto que se quer honesto “vendido” in e outside por vários escritores: eu sou contador de histórias do meu povo. Quando acolhido à primeira vista, este discurso, gera a ilusão de que há pouca ficção como se ao escritor e ao escrivão a vida reservasse o mesmo ofício.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Auditório Municipal de Chókwè: um colosso cultural na masmorra da degradação

O edifício multifuncional da cidade de Chókwè que há décadas fora palco de grandes realizações culturais vale mais pelas memórias do que pelo que possa oferecer nos dias que correm.
Antiga, em destroços, paredes que racham a cada dia, teto que se esvai a cada instante, detalhes ornamentais que remontam o olhar a um esplendor já não mais vivido, é o cenário actual do Auditório Municipal de Chókwè, uma infraestrutura imponente sita no 1º bairro da cidade de Chókwè, a 120 Km da cidade capital, Xai-Xai, província de Gaza.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

UMA LEITURA INTERACTIVA DE “A BÍBLIA DOS PRETOS” DE DOM MIDÓ DAS DORES


1. Pressupostos da leitura interactiva
O modelo interactivo de leitura defendido por Bakhtin parte do pressuposto de que “tudo possui um significado, ele compreende as características formais ou repetidas da linguagem como significados não formais, não repetíveis e sempre reais.” De tal forma que se pode dizer que, para Bakhtin, no exercício da linguagem, tudo tem uma intenção, desde a escolha ao uso, da causa ao efeito que pode advir desse exercício.
No entanto, esta visão de que toda selecção lexical de num texto, visa a transmissão de uma determinada “mensagem” tanto do ponto de vista temático, assim como ideológico, encontra acolhimento devido quando se está perante uma obra literária em razão da sua (bastante comum) natureza simbólica na codificação dos significantes.

domingo, 26 de abril de 2020

O et cetera do artigo "da originalidade à (im)possibilidade de criação de textos inteiramente novos após séculos de produção artística”


Das reações que este debate catapultou pelo Messenger e WhatsApp consta-me que há reticências naquele texto que precisam de ser transformadas em palavras para que o ponto depois do et cetera seja realmente uma pausa conclusa.

terça-feira, 21 de abril de 2020

INSIGHT due to COVID19

Custa-me crer que um ser tão poderoso,
Criador de galáxias e quejandos,
Permita-se um downgrade tão desdenhoso,
Quanto pavonear-se com a dor pandémica de mundanos.

Valha-me a sorte de o senso caracterizar o bom Deus
e que o sadismo (ou algo afim) lhe seja alheio
para que as entes que nutrem pobreza na fé e pensares seus,
um dia, revejam os seus (des)votos e seu devaneio.

Se estiver eu equivocado e eles na verdade habitarem,
Data venia, talvez o mundo precise de um novo Deus
Ou reformular a concepção que tem sobre este Deus que tem.