quarta-feira, 5 de outubro de 2022

“As Máscaras da Verdade” de Almeida Cumbane é um ensaio sobre a justiça social no universo diegético

Março de 2020. É nesta altura em que entro em contacto com este livro. Para vocês é intitulado “as máscaras da verdade”. Para mim “o injusto testamento” embora não tivesse gostado deste título na altura. Agora que o autor o trocou por outro, passei a gostar dele. É verdade. Convenhamos: há daquelas coisas de que passamos a gostar pura e simplesmente porque nos parecem exclusivas. Vem daí, talvez, o encanto das mulheres pela roupa de fardo. Dizem elas: aquelas peças são fashion. Únicas. Sem versões. Nem sósias que se recusam a tirar uma foto, tal como aconteceu com o outro de quem se suspeita que nos tenha burlado.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Tasaver: escreve-se na terra, nos céus a vida é religiosa!

Este título faz cócegas na alma para que me dedique a um ensaio possível de fazer acerca do ofício a que possivelmente se reservem os nossos mestres da palavra que já não andam entre nós. Seria um texto e tanto, tasaver. Daqueles que só sairiam em circunstâncias tais em que a aura atinge um estado zen. Imagine-se, caro leitor: neste Setembro. A pensar. Não no amarelo. Mas no azul do mar. Descalço. Sentado na praia. Os pés das calças dobrados até ao joelho e as mangas da camisa ao cotovelo. Os sapatos pousados à esquerda.

terça-feira, 26 de julho de 2022

a distante proximidade com que Cumbane narra os nossos mundos

Fico bastante honrado por este convite para tecer breves linhas sobre um livro com o qual tenho imenso carinho. As razões são várias. Depois tratamos delas, tim-tim por tim-tim. O que me cabe dizer neste momento é que não vim fazer uma apresentação no sentido mais trivial desta actividade. E vou pedir perdão por isso porque já lá vão os tempos em que os eventos literários se despiram, quase que por completo, de alguns cerimonialismos. A Deusa d’África já disse, e muito bem, que não se faz poesia de mini-saia. Haja vista que, também, não se faz literatura de gravatas, terno italiano, sapato polido e vinco tinindo nas calças.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

TASAVER: amar em tempos líquidos!

Migramos por este don’t tell nobody ou outro túnel qualquer, como se a gestão da fala e da imagem pudesse ser cúmplice e que o estado líquido em que vivemos, tal como o velho Bauman descreve, fosse só uma quimera. O que ninguém sabe, ninguém estraga: nós dissemos. Que o mundo está uma aldeia não nos ocorre tão bem!

Depois da primeira revelação desse facto, damos um salto para o don’t listen to what they say porque as falas sobre nós ou sobre o que as pessoas julgam saberem de nós começam a desfazer o castelo de cartas em que a nossa descrição se tornou. Já temos holofotes. Somos estrelas nos seus quinze minutos de fama. Cinco da descoberta. Outros cinco do auge. E os últimos cinco do patético declínio no anonimato.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

O Amor Fati na canção “Mamana Wanga” de Avelino Mondlane – uma breve análise filosófica!

 

A expressão latina “#Amor_Fati” que significa “amor ao destino” foi um dos objectos de reflexão dos grandes filósofos como Frederich Nietszche, Epictetus, Marcus Aurélio e Albert Camus.

Ignorando algumas nuances, pode assumir-se uma convergência de pensamentos desses filósofos na concepção do “Amor Fati” como aceitação do homem ao seu destino, mesmo sendo feito de tragédias, contrariedades e boaventurança.

TASAVER: não haverá TSU que baste!

Eis-nos aqui nesta azáfama pela tabela salarial que se espera única e histórica. Muitos adjectivos à volta (não é?). Não é um caso novo: já nos habituaram os informes anuais sobre o estado da nação: muito adjectivados e opulentos. Dá para perceber que Camões pusera cá os pés e, do túmulo onde jaz, regozija-se pelo feliz facto de a sua língua ter assentado cá os arraiais. Mas essa é uma conversa com teor avaliativo cujos resultados não serão positivos para todos filhos da pérola, do mais distinto ao mais pacato. Por isso, deixemos. É melhor!

quarta-feira, 29 de junho de 2022

TASAVER: sou mais Pablo que o Escobar

Sou também dado a elas mas, neste universo, sou mais Pablo que o Escobar. Ele é maior. E mais: as que eu vendo não alucinam. Despertam. Curam. Engrandecem. Mas também destroem. O seu poder é indescritível. Boa parte do sou e tenho. É graças a elas. Vendo-as e consumo-as. Do que se sabe dele, até esta parte, ele não consumia as dele. Apenas vendia. Eu sou diferente. Vendo e consumo um pouco de cada uma, antes de vendê-las. Faz parte do ofício. Todo escritor consome as suas palavras antes de as vender ao leitor.

sábado, 25 de junho de 2022

Os Protestos

Há quem tenha medo que o medo acabe!”

Mia Couto

O que de substancial se pode aprender dos jovens sudaneses e argelinos que recorreram a manifestações para dizer basta aos regimes ditatoriais com mais de duas décadas no poder?

sexta-feira, 24 de junho de 2022

TASAVER: há dias para se ser poeta!

Olho para a brancura do display com os mesmos olhos com que Campos de Oliveira olhava para a brancura do papel. Nasce-me aquele ímpeto de pensar no share nas redes sociais ou em qualquer destas tantas antologias que se criam à velocidade do vento e se tornam e-books, magazines, fanzines ou qualquer coisa a que se tem acesso através de um link para download. Ele e os seus tinham de esperar pelo prelo. Possas! Mudam-se os tempos, desfazem-se as práticas.

Vou pensando nesta vida de letras que é tão grata quanto ingrata quando assim o acaso decide. Por vezes nem é o acaso que determina. Os egos e o ethos assim o impõem. Talvez Noronha, Craveirinha e Knopfli (todos juntos) possam dissertar melhor sobre este capítulo da conversa. A mim basta este ar do quase, do pode ser que…É um pós-modernismo necessário que tive de experimentar. Coisas da vida, já o disse Milton Nascimento.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

o grotesco e o escatológico como elementos de representação do caos em cães à estrada e poetas à morgue

 a instauração do desassossego

não seria a principal finalidade

da boa literatura?

É com esta questão que se encerra o prefácio que a professora Vanessa Riambau Pinheiro faz do livro “cães à estrada e poetas à margem” de Deusa d’Africa. O que está em voga pode não ser a mera busca pela intencionalidade textual e sim um lançamento do olhar ao que realmente importa para que o texto seja efectivamente literário.

Longe da falsa divisória da forma e do conteúdo, que se tem tornado norma na actual poesia moçambicana, “cães à estrada e poetas à morgue” é uma intercessão entre o real e o imaginário. O sonho e a realidade. A memória e o devaneio. O mundo exterior e o interior. Uma poética imagética surreal e mimética.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Necessidades versus liberdade em África


“Ó África, surge et ambula!”

                                        Rui de Noronha


Quão vil torna-se o homem quando consagra grande parte da sua existência à luta pela satisfação das necessidades biológicas. Um homem, quando forçado a prostrar a sua dignidade para apanhar o pão da vida, prova para consigo mesmo que o mais importante não é alimentar-se para viver, mas viver para alimentar-se, independentemente da cruel realidade que o obriga a portar-se desta maneira.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

O buraco negro da educação

“A verdadeira educação consiste em pôr a descoberto ou fazer actualizar o melhor de uma pessoa. Que livro melhor há que o livro da humanidade?”

Mahatma Gandhi

Do latim educatio*, a educação entende-se como transmissão e aprendizado de técnicas culturais para a formação e amadurecimento do homem. Era suposto que este fosse um fim imprescindível de qualquer escola – a busca do aperfeiçoamento das faculdades humanas. Ou seja, antes de a escola focar-se em formar os indivíduos para o trabalho com o fim de desenvolver a economia do país, era míster que se focasse na formação dos indivíduos para o seu desenvolvimento intrapessoal e interpessoal. Não se trata de uma preferência subjectiva do autor, mas de uma necessidade de subordinação entre os dois objectivos.

terça-feira, 26 de abril de 2022

O erotismo como um campo de afirmação da feminilidade ou desmistificação do perfume do pecado

“Não se nasce mulher, torna-se mulher”

Simone de Beauvoir


Sexo é poesia. Esta é a frase que encerra o texto patente na página 27 do livro “o perfume do pecado” como um exercício sugestivo de se sentir o aroma de um pecado que a nossa vivência religiosa intitula original. Mas não é sobre sexo que o livro trata como pode sugerir uma leitura apressada tanto do livro como da capa que, aliás, foi engenhosamente desenhada.

O perfume do pecado é uma construção poética que se constrói através da metaforização da sensualidade feminina, sobretudo, e da representação de estruturas de sentido que nos confirmam que o texto literário não diz. Sugere.

quinta-feira, 3 de março de 2022

apontamentos sobre tripulantes de uma embarcação que ainda não existe

...dou por mim, nestes últimos dias, dividido entre revisões, ensaios e rabiscos de versos ou prosas. É nos primeiros dois exercícios que mais me detenho. Claro, quando a leccionação deixa-me algum tempo sobrando. Talvez pudesse dedicar o meu tempo a outras coisas mas há uma devoção por nutrir. Prazer por satisfazer. Ombros por ceder aos que se queiram encostar.

Se uma vez alguém disse que não há melhor forma de empobrecer do que editar livros, digo, também, que melhor forma de despender tempo não há do que revisar ou ensaiar livros. Entretanto, nenhum experimentado nestas lides dirá que se trata de um exercício ingrato.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

que diferença faz a epiderme?

(com a gnose, que soçobra)

I

...plumas e tinta ferrogálica.

Metamorfoseando a brancura

do papel. A contragosto do que só

se revela no cume do monte. E não

na troca de olhares pelas margens

do mar. Ou nas grutas da floresta.

O cérebro esquartejado ao calabouço

do self.  Horizontes diluídos. Porque

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

close up: poesia moçambicana de hoje II

“temos bons poetas e muitos sabem escrever, mas há um excessivo labor da palavra, excessiva metaforização, e cada vez que isto acontece há uma fuga na comunicação que se busca estabelecer com o leitor” 

Marcelo Panguana 

De algum modo, venho reflectindo sobre este assunto. Vagueio entre a vontade, a dúvida e a dívida que devo saldar há quase uma década. Escrevi sobre a poesia moçambicana de hoje sob o olhar que tinha naquele "hoje". Um olhar que se fitou ao conteúdo a desfavor da forma que é também preponderante na arquitetura textual. Era outro momento, outra desenvoltura e outro fôlego. Mas nada disto me impele a vergonha do tempo nem a força do click no delete: são ossos de um percurso que devem ficar registados nesta plataforma.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

prosa poética ou prosa margeada à esquerda?

“o problema dos géneros literários tem constituído,

desde Platão até à actualidade, uma das questões mais

controversas da teoria e da praxis da literatura.”

AGUIAR & SILVA (2007: 339)

Incitar um debate sobre géneros literários ou outro princípio de segmentação discursiva nestes tempos em que reina a liberdade de criação e a volúpia da inovação à reboque da miscigenação que há séculos faz endereço na Literatura, é cutucar um dragão há muito adormecido e enxovalhado pelas colinas.