Sou também dado a elas mas, neste universo, sou mais Pablo que o Escobar. Ele é maior. E mais: as que eu vendo não alucinam. Despertam. Curam. Engrandecem. Mas também destroem. O seu poder é indescritível. Boa parte do sou e tenho. É graças a elas. Vendo-as e consumo-as. Do que se sabe dele, até esta parte, ele não consumia as dele. Apenas vendia. Eu sou diferente. Vendo e consumo um pouco de cada uma, antes de vendê-las. Faz parte do ofício. Todo escritor consome as suas palavras antes de as vender ao leitor.
E as minhas, camaradas: são pesadas mas ermas. Doces mas picantes. Não são sintéticas. Sou dado a coisas naturais. Basta uma leitura ou duas para sair da letargia. Mesmo assim, nunca quis ser um poeta de combate. Nem de metáforas desconexas senão incompreensíveis até para o próprio autor, depois de escritas. Mas combato. Desacreditas? Tente promover o exercício da cultura de leitura em Xai-Xai. Entre impropérios e palmadinhas infrutíferas nas costas: coisas leves. Vezes há em que ouves disparates como os que a Deusa d’Africa reproduz no seu poema intitulado “Confissão IV”, do livro “Ao encontro da Vida ou da Morte”.estamos
cientes da vossa miséria mas há indisponibilidade de recursos financeiros em nossa
casa. Uma vez que priorizamos projectos de educação e cultura, não dispomos de
recursos para a literatura.
Vês? Cá no Xitende sempre combatemos mentes como estas. Mas, cá entre nós,
foram bons dias aqueles: gloriosos para quem via os resultados. E martirizantes
para quem vivia os bastidores. Fosse como fosse, as coisas aconteciam. Mas não
pararam. Ainda acontecem. Com outro fôlego. Maior ainda. É por estas e outras
que quando por aqui andas, ouves Camarada poeta para cá e acolá. Pensaste que a
camaradagem fosse outra, não é? Estamos acostumados a esse rótulo. Aliás, esse
é o osso de se estar nestas terras em que se vive nos anos dois mil e quarenta
e tal.
Voltando às palavras. Já houve tempos em que rasgávamo-las em cada fim do
mês. Na última sexta-feira do mês para ser mais preciso. Na casa provincial de
Cultura, bem no centro da cidade. Agora não fazemos mais isso. O que aconteceu?
Não vai querer saber: só te posso recomendar que leias “perguntas de um operário letrado” de Bertolt Brecht. Não
precisarás de lê-lo por inteiro. Diz o poeta: /quem construiu Tebas, a das sete portas?/ Nos livros vem o nome dos
reis/ Mas foram os reis que transportavam as pedras?/
Hoje fazemos outras cenas. Com o cabelo grisalho à espreita, condicionamos
maningue as nossas vendas. Só nos falta estampar umas t-shirts com o signo “no money no word”. Isso sim daria algum
jeito. As revisões de Rectasletras não me sustentam os vícios. Quero outras
cenas. Desde que não sejam sopinhas para deixar de fazer um close-up sobre
literatura e outras coisas sempre que me apetecer. Há estatutos claros neste
cartel. Por mais sonhador que seja, não auguro outra vida fora do cartel. O
Escobar sonhava mais. Queria ser presidente. Eu só quero ser eu. E ninguém mais.
Por isso sou mais Pablo que ele, tal como disse o Zuka no seu belíssimo “na fita” do álbum “Mechelas” de Sam The Kid.
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