“quando me perguntaram o que lia para começar a escrever, respondi que não lia nada e que escutava rap”
Quando soube que era médico, ocorreu-me uma curiosidade natural: como devem
parecer as anotações que resultaram na sua cada vez mais crescente obra? É
legítimo que tal dúvida me tenha ocorrido: foi sempre estranha a relação dos
médicos com a caligrafia.
Fiquei mais sossegado quando passei a saber que a vida o dera outro ofício
com o qual dá vida às cores que, por sua vez, colorem a vida dos que adquirem
os seus quadros. Não são da linha do velho Malangatana. Ele serve-se de outras
técnicas. Mas sobre isso falaremos noutro dia, não é?
Condeno a minha disciplina no rumo desta conversa porque em nenhum momento pensara em questionar em que momento o homem escreve. Sim, Zaiby Manasse é médico, artista plástico, escritor e rapper. É uma voz não tão nova no cenário literário moçambicano. Publicou poesia [O Mel do Meu Passado Presente (2013); Desvaneios Ensanguentados pela Globalização (2014)] mas é a prosa [Caneta do Balcão 1 (2020/2022), primeira e segunda edição, respectivamente; O Entroncamento (2021/2022), primeira e segunda edição, respectivamente] que o coloca nos holofotes. Se ainda não o li, a culpa é do seu editor com quem tenho privado já lá vão alguns invernos. Pronto. Está feita a denúncia. Em breve terei toda a sua bibliografia, inda que já tenha esgotado os exemplares. Pois é, este é outro talento do Manasse. Pelo menos esta façanha, o editor teve a bondade de me segredar.