É Alex Barga. A leitura deu-lhe este nome. Antes deste, já era Alex Nhabanga. A sua vida resume-se na literatura. Vive e respira poesia. Acredita que a poesia seja a língua dos poetas.
É, em síntese, um gajo de papos. Bons papos. Estivemos, há dias, a ter uma cavaqueira telefónica sobre isto e aquilo. E, claro, surgiram bons papos. A malta de livros tem disso. Por sermos ilhéus nestas coisas de gostar de ler e fazer ler, acabamos criando uma espécie de “coitadismo” que nos une. É estupendo!
De tanta coisa que abordamos no papo, a parte mais frutífera foi quando descobrimos horizontes para desenvolver acções para benefício mútuo. O problema nisto é o tempo. […é, na verdade, a razão por detrás da irregularidade na publicação destas conversas]. Até chega a ser dramático. Há tantas ideias por desenvolver, mas é preciso dividir o tempo existente com outras actividades mais generosas. Pois é! Há vazios que as metáforas não preenchem.
Para si, a actividade literária passa a ser mais consciente a ponto de querer publicar um livro, quando se apercebeu que tinha um volume de livros ainda não publicado, decorrente do facto de ter escrito continuamente durante muito tempo. A partir disso, arregaçou as mangas e pôs as mãos à obra. E que obra!
“Publico o meu primeiro livro em 2013. Dos vinte e quatro anos de carreira, conto com 6 livros no mercado. Dores de Parto, Dores de Inspiração (2013); Sonhos, Caminhos e Luta – antologia (2015); Aliança com a Solidão (2016); Leis de Amor (2017); Quem me dera ser Puta (2021); Quando a Morte é Alternativa de Sobrevivência (2023).”
Não restam dúvidas. O homem tem muita tinta. E, mais importante, consegue manter uma regularidade nas publicações. Esse o nosso maior dilema. Temos bons “génios” que subitamente aparecem e depois somem e não se sabe nada deles. Em alguns casos, até dão ares de sua graça, mas em intervalos totalmente irregulares, o que dificulta uma leitura diacrónica do seu labor literário e, por via disso, extrair ilações tendentes a uma espécie de estética autoral.
Depois destas partilhas, chegamos ao x da questão: há uma queixa comum entre os que trabalham directamente com a literatura. Todos dizem que este exercício não se traduz em dinheiro. O que terá ganho na sua vida pessoal, social e profissional através desta militância pela literatura e pelo livro? Perguntei-lhe de forma bastante clara para que não nos desse fintas. Eis que a resposta foi inesperada. Inusitada, eu diria: “tudo que tenho é através da literatura. Eu vivo de literatura. Tenho casa, custeio as despesas dos meus 4 filhos através da literatura. Criei o meu próprio emprego. Antes trabalhei numa instância turística como assistente administrativo e tenho passagem pelo jornalismo, mas a TPC-Editora é a base da minha sobrevivência.”
E ponto final. Só com estas afirmações já tinha dito tudo. Mas, porque nem tudo é material, acresceu: “através dos livros cheguei em lugares que nunca tinha imaginado. Os meus livros já chegaram em Portugal, em Angola, em Cuba, na África do Sul e em tantos outros lugares. Então, a literatura fez com que eu chegasse em todos esses pontos.”
Indubitavelmente, dizer ao Barga que a arte é uma actividade inglória não é uma ideia que atraia concordância. Nem de credos. Nem de teoremas. Muito menos de perspectivas. “É possível viver de poesia. O importante é que as pessoas descubram as oportunidades, que a literatura tem. Muitos de nós escritores falhamos pelo facto de nos espalharmos. Há que identificar o seu potencial e investir nele, porque só dessa forma é que o crescimento é inevitável. Com uma maior atenção, é possível. Eu vivo de literatura.”
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