Texto dramático: características, estrutura externa e interna

O termo drama (do grego drân = agir) faz referência ao facto de, nestes textos, as pessoas serem representadas em acção, (Aristóteles, 384-322 a. C) apud Garcia (2010, p. 117).

Partindo deste pressuposto, Santos (2015, p. 22) admite que falar de “género” dramático é, até certo ponto, falar de “género” teatral.

Há, contudo, necessidade de dissipar equívocos tal como alerta Diegues (2010, p. 22) cit. em Santos (2015, p. 23) ao afirmar que:

Não devemos ser radicais quando se trata de delimitar uma fronteira entre o texto dramático e a representação teatral. A união entre ambos parece óbvia, podendo um originar o outro, mas a sua separação também sobressai, na medida em que subsistem cada um por si só: pode-se assistir a uma peça de teatro sem conhecimento do texto de origem, da mesma forma que se pode ler um texto dramático sem que se tenha assistido à sua representação.

O drama surge, portanto, associado ao modo dramático, compondo juntamente com o lírico e o narrativo os “modos fundacionais da literatura”.

Garcia (2010, p. 117) acresce que “considerando que a ação do drama envolve o choque entre personagens, nos dias de hoje, o vocábulo passou a ser usado de forma generalizada para definir qualquer situação que seja conflituante, literária ou não”, daí o uso deste termo em âmbitos que em nada tem que ver com questões literárias.

Em linhas gerais, podemo-nos alicerçar à concepção de Santos (2015) segundo a qual o texto dramático configura um universo textual que se integra no modo (literário) dramático e implica uma comunicação directa das personagens entre si e com os receptores do enunciado servindo-se das suas personagens para representar as ações e reações humanas.

Há neste exercício mimético, aludido acima, um princípio de representação nas mais variadas situações da vida humana, de tal forma que o texto dramático pode se desdobrar em diversos géneros textuais, dentre os quais destacamos: a tragédia, a comédia, a tragicomédia e a farsa.

A tragédia faz referência a uma encenação que apresenta acções humanas, simbolizando a alteração da ordem no contexto familiar ou social. Geralmente, a tragédia desenvolve temas ligados às paixões humanas e os conflitos por elas desencadeados, representados por personagens nobres ou heroicos (deuses, semideuses ou membros de uma classe social elevada). O fim máximo da tragédia é desencadear terror e piedade por parte do leitor/público.

Referindo-se à comédia, Garcia (2010, p. 143) postula que a mesma surge nos festivais realizados em honra a Dionísio (deus do vinho, das festas, da alegria e do teatro na mitologia grega). Alguns dos festejos ocorriam durante a primavera e costumavam apresentar um cortejo de mascarados. Esses cortejos recebiam o nome de komos e deles deriva o nome comédia (komoidía: komos, “procissão jocosa” + oidé, “canto”). A comédia caracteriza-se, assim, por sua leveza e alegria, abordando episódios quotidianos e as personagens são seres humanos e reais sobre os quais se deseja abordar um assunto em tom jocoso e, muitas vezes, satírico. A tragicomédia surge, portanto, como fusão entre a tragédia e a comédia. Relativamente à farsa, em comparação com a comédia, apresenta-se como um género de menor extensão, pouca complexidade e com uma dinâmica de conflito muito breve. Geralmente, apresenta caricaturas e, mesmo que aborde assuntos do quotidiano à semelhança da comédia, o faz sempre numa perspectiva meramente humorística.

Caracteristicas

Þ    No texto dramático impera a função apelativa da linguagem, ao exprimir o mundo exterior e objetivo, recorrendo, em geral, à enunciação na segunda pessoa;

Þ    Privilegia a dinâmica do conflito. Este constitui o factor central no texto dramático à volta do qual se organizam os elementos que contribuem para a sua progressão;

Þ    Primazia do diálogo/monólogo em detrimento da fala autoral. A partir do diálogo/monólogo a ação dramática caminha, prescindindo da figura do narrador muito presente no modo narrativo;

Þ    Presença excessiva de elementos dêiticos (pronomes pessoais e demonstrativos, tempos verbais, advérbios de tempo e lugar, etc.) que contribuem para a coesão textual;

Þ    Predominância do presente do indicativo ao qual se inscrevem os demais tempos verbais;

Þ    Do ponto de vista da sua organização, o texto dramático apresenta (1) o texto principal/réplicas que corresponde à própria acção dramática com as personagens interagindo em si (diálogo); com uma personagem comunicando consigo mesma (monólogo); ou com uma personagem fazendo comentários para com o público, pressupondo que não estejam a ser ouvidos por outra(s) personagem(ns) em acção (apartes). O texto dramático apresenta, também, (2) o texto secundário/didascálias que correspondem à listagem de personagens, identificação das personagens antes da fala, indicações sobre a estrutura externa do texto (actos e cenas), indicações cénicas sobre as movimentações das personagens em acção.

Estrutura externa

A narrativa dramática pode ser apresentada sem interrupções espaciais, temporais ou de outra natureza cênica. A despeito desse facto, o texto dramático pode ser dividido em actos e cenas. Os actos correspondem às divisões do texto dramático em função da mudança do espaço cênico. As cenas são as divisões do texto em função da saída ou entrada de uma personagem no momento da acção.

Estrutura interna

1.      Exposição: apresentação das personagens e dos antecedentes da acção;

2.      Conflito: peripécias/controvérsia que faz a acção progredir;

3.      Desenlace: conclusão da acção dramática.