quarta-feira, 20 de março de 2024

“a escrita ajuda-me a entender melhor a mim mesmo e ao mundo ao meu redor”

É um Big Brother. Olheiro dos seus. Cada conversa é uma aprendizagem. Tive uma delas no primeiro contacto: “nunca ignore chamadas telefónicas de contactos estranhos”. Sim, isso mesmo. Não foi daqueles sermões que damos no auge de uma mania de autoridade moral que nos acomete, mas de um contexto próprio. Uma ocorrência. Uma feliz coincidência de nomes. Vamos, então, ao brevíssimo recorte desta aula dada em 2020.

segunda-feira, 18 de março de 2024

“através da literatura, tornei-me em alguém que outras pessoas desejam ser”

Quis o destino que a Amélia Margarida Matavele passasse a ser Pré-Destinada. Porque ninguém pode contra o destino, assim ficou: Pré-Destinada. Tem com a escrita uma relação de altruísmo. Não é sobre si, mas sobre agregar valor nos outros.

Despertara esta componente entre os anos 2012/2013. “Comecei a notar que o que escrevia não me pertencia: era propriedade dos outros. Entendi, desta forma, que ao publicar os textos que escrevia, incentivava outras pessoas a lerem ou a se interessarem pelo mesmo ofício.”

sábado, 16 de março de 2024

“Teria enveredado para o mundo da prostituição ou das drogas. Mas encontrei, na escrita, um porto seguro”

Noutra latitude. Noutra galáxia. Noutra era, a Hera era a representação da poesia feita por mulheres neste pedaço do Índico. Hera de Jesus é o seu nome. Tem um verso suave e puro, que só se consegue nos primeiros anos de escrita, antes das leituras de teoremas e manuais. Estas coisas dão, ao verso, um ar tecnicista que talvez interesse aos críticos. Talvez a escrita não seja feita dessas coisas. Sim, talvez.

quinta-feira, 14 de março de 2024

“a poesia tem-me dado oportunidade de viajar pelo país inteiro”

Tínhamos uma pita em comum: a Elsa. Nunca tivemos problemas com isso. Julgo, até, que se estivesse viva, a Elsa não se iria importar. Numa dessas cavaqueiras, partilhamos esse gosto pela música da Elsa Mangue, de tal forma que acabou se tornando nossa pita. Só recentemente é que a tomei só para mim, dei-lhe uma cabeçada ao fazer menção a esse amor por ela no meu mais recente livro. Ele a perdeu.

Projecto Ciclo de conversas "Ganhos do Percurso"

Passei a apreciar a arte pelo conceito. Em outra conversa chamaríamos de plano de texto ou design. É interessante pensar na arte a partir deste ângulo. Todo o engenho investido para a sua construção ganha sentido pleno. Foi o que aconteceu com a música intitulada "ganhos do percurso" de MCK, com a participação de Valete e Loromance.

quarta-feira, 13 de março de 2024

“Escrever permite drenar, no papel, as frustrações do indivíduo e transformá-las em objecto de arte”

É Orlando Jorge Mussaengana. Locutor, Jornalista, Advogado e Escritor. Para conversar com ele, é preciso situar muito bem o norte: se é em busca do Jornalista/Locutor, do Advogado ou do Escritor. Há outro alter-ego que a carreira profissional inseriu em si. O do gestor público.

Desta vez, a conversa foi ao encontro do Escritor. Nesta qualidade, adopta o pseudónimo de Rey Mataka VII. Para si, a escrita deixou de ser um hobby para se tornar numa actividade mais consciente, a ponto de pensar em publicar um livro, a partir da altura em que começou a interagir directamente com outros escritores. Cá entre nós, é uma consciência tardia, se considerarmos que escreve poesia e prosa desde 1992. Vês, já lá vão 32 anos. Sim, isso mesmo: 32. Durante muito tempo escrevia de si para si. Não partilhava. De alguns anos para cá, passou a participar de lançamentos de livros, saraus culturais em Maputo e em Gaza.

A Influência do Rap na Produção Literária Moçambicana Pós-2000: diagnóstico de [possíveis] interfaces discursivas[1]

1.      Considerações iniciais

A partir da segunda década do século XXI, regista-se, no mercado livresco moçambicano, a publicação de várias obras de autores moçambicanos jovens, muitos deles estreantes embora já tivessem publicado textos em antologias e periódicos nacionais e estrangeiros.

Tal geração de escritores, nascida entre os anos 80 e 90, publica os seus primeiros livros neste período caracterizado por uma massificação de editoras independentes, de associações e festivais literários, de periódicos electrónicos (sites, blogs, vlogs, revistas, fanzines, etc.) que, estando à margem dos canais “oficiais”, marcam a pauta literária deste tempo tal como acentua a Professora Fátima Mendonça em texto publicado no jornal O País, dia 05 de Setembro de 2017, nos seguintes termos:

São uma geração das novas tecnologias, aberta a um mundo em que as fronteiras se tornam porosas, que conscientemente aproveita as vantagens dos caminhos abertos pela Internet, no Facebook, nos blogs em todo esse aparato tecnológico que integra soluções culturais para o nosso presente e que no caso de países como Moçambique em que existe uma hipertrofia dos grandes centros urbanos, permite colmatar as assimetrias existentes.