quinta-feira, 14 de março de 2024

“a poesia tem-me dado oportunidade de viajar pelo país inteiro”

Tínhamos uma pita em comum: a Elsa. Nunca tivemos problemas com isso. Julgo, até, que se estivesse viva, a Elsa não se iria importar. Numa dessas cavaqueiras, partilhamos esse gosto pela música da Elsa Mangue, de tal forma que acabou se tornando nossa pita. Só recentemente é que a tomei só para mim, dei-lhe uma cabeçada ao fazer menção a esse amor por ela no meu mais recente livro. Ele a perdeu.
Assina os livros com o nome Lahissane. Custa-nos dizer que se trata de um pseudónimo, devido à história que o origina. Conta-nos que fora (e ainda é) registado oficialmente com o nome de Lucas Silvestre Maxlhaieie. No contexto doméstico, fora-lhe dado o nome de Laisse. É comum cá no burgo: a malta tem um nome da escola, e outro de casa. Moz anima maningue, não é?
Quando o avó materno se apercebeu do facto, sentenciou: eu sou Laisse, este menino é Laisse pequeno. Por isso, a partir de hoje deve ser chamado de Lahissane. E assim foi.
Mete-se com a poesia em tenra idade, através de actividades de leitura e escrita. “Fui fazendo este exercício na inocência até ao ponto de publicar alguns poemas em revistas e antologias nacionais e internacionais”, revela. Nestes canais, recebia comentários avaliativos sobre o seu labor criativo e, com isso, foi ganhando forças para continuar a ler e escrever. “Em 2017 um dos meus textos teve menção honrosa num concurso internacional de poesia, organizado pela ALPAS 21 no Brasil. Este destaque e as participações em antologias poéticas despertaram-me a consciência e passei a pensar a sério em publicar um livro, o que veio a acontecer no segundo semestre do ano 2022.”
“Os Pores-do-Sol” é o título do seu livro e foi chancelado pela Ethale Publishing. Na altura, fiz uma recensão sobre ele, que pode ser lida aqui.
Encetamos esta conversa no âmbito do ciclo de conversas “ganhos do percurso”, em que pedimos que os escritores partilhem experiências de ganhos materiais e imateriais decorrentes da escrita. Por isso, convidámo-lo a tecer considerações sobre eventuais ganhos em seu percurso de vida entregue à escrita e aos livros: deu-nos fintas. Muitas fintas. Típicas de Dominguês no auge da carreira.
“Esta questão relativa aos ganhos é complicada.” _ Por isso que a fizemos _ eu podia ter dito (risos). “Tenho a dizer que nós, como autores, podemos traduzir os nossos trabalhos em dinheiro. Geralmente, deixamos o livro nas livrarias. Ninguém passa por lá para comprar e nada fazemos para que os leitores o façam.” Lamenta. “Para além de deixar nas livrarias, ficamos a espera de uma feira ou exposição de livros.” Acrescentou com o ar de lamentação, porque acredita que os autores precisem de vender os seus trabalhos em todos lugares que frequentam: local de trabalho, ambientes de lazer, igreja, praças e até mesmo no chapa.
Depois deste universo de fintas e mais fintas, eis que nos veio a revelação: “trabalhei em vários lugares longe da família, e, pela poesia, consegui breves caminhos para trabalhar em locais mais próximos. Considero isto um ganho que consegui através da literatura.”
Adicionalmente, revelou ter trabalhado em alguns projectos de literatura infantil e teve alguns valores monetários decorrentes dessa actividade.
Para terminar, chegou ao x da questão: “sempre gostei de viajar e a poesia tem-me dado essa oportunidade de conhecer o país inteiro. A literatura deu-me mais uma família de membros maravilhosos que são os meus confrades da Associação Cultural Xitende. Há, enfim, outros ganhos que não posso revelar aqui (risos).”

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