“nunca a justiça foi tão ínvia e a verdade uma porção de pó”
Escrevi um texto há dias. Uma provocação de bom gosto
para quem se expõe ao contraditório para repensar as suas crenças, atitudes e
escolhas. “Os nossos poetas vivem
lacrados em torres de marfim” era o título da provocação cujo interesse não
era outra coisa, senão um convite ao debate sobre o nosso labor enquanto
poetas/escritores deste tempo e desta parte do Índico.
Em “Ágora” de Samuel Pimenta encontrei a materialidade da
minha utopia no exercício da escrita: uma construção imagética primorosa e um
efeito de sentido que nos deleita e desassossega. Ler este trabalho e não olhar
para o horizonte e questionar-se sobre o sentido da vida, do mundo, dos nossos
credos ou a ausência deles é um exercício impossível.
“Ágora”, termo pelo qual Samuel Pimenta intitulou este conjunto de poemas, é uma referência à “praça das antigas cidades gregas, na qual se fazia o mercado e onde se reuniam, muitas vezes, as assembleias do povo.” A leitura deste conjunto de textos reenvia-nos para a certeza de que o título não foi resultado de um acaso ou do interesse no efeito fónico da palavra, mas daquilo que ela significa.