É certo que esta não é a forma mais ideal de dar início a um
artigo, até para o mais extraordinário dos escritores, mas devo, antes de mais,
ressaltar a dificuldade que só ninguém não enfrenta quando se trata de falar
deste assunto __ Poesia moçambicana de hoje.
A primeira seria o facto de
ser, ainda, um fenómeno numa fase que podemos considerar embrionária e por
assim ser, torna-se difícil indagar acerca dele tanto para mim assim como para
qualquer historiador da literatura com a lucidez em dia.
A segunda dificuldade digna de destaque é o carácter múltiplo
desta poesia ou os seus autores (pelo menos é isso que transparece quando
interajo com os demais poetas em saraus, colóquios, encontros literários,
etc.). Evidentemente, numa sociedade com considerável multiplicidade, devida, se
calhar, à própria natureza sócio-cultural do país e também ao mundo cada vez
mais múltiplo, encontramos no mesmo poeta, vários poetas (creio que mais
adiante explicarei de forma clarividente o porquê desta constatação). E, outro
entrave que posso ainda trazer a tona é o facto de, eu não ser a pessoa
cientificamente indicada para esta tarefa, por um lado, porque a mesma exige um
gabarito intelectual do qual não disponho e, por outro, porque sou integrante
do vasto grupo de poetas que faz e perfaz esta arte nos dias de hoje.
Portanto, perante este
quadro de dificuldades, apresentar como estanques e inquestionáveis as minhas
constatações acerca da poesia moçambicana de hoje, seria uma tentativa de
desonestidade levada a bom termo!
Enfim,
deixemos os queixumes de lado!
O
facto é que, nesta nova gama de poesia actualmente cultivada em Moçambique,
nota-se, como teria dito acima, uma multiplicidade tal que permite-nos cogitar
a possibilidade de, em um poeta poder se encontrar vários poetas, porém,
percebe-se que nessa multiplicidade há originalidade, pois por mais que os
poetas divaguem em diversas formas de estar na poesia, eles vão mantendo marcas
mínimas que permitam a identificação da sua caligrafia. Mas afinal, a que
formas de estar na poesia me refiro?
São
várias, mas as mais presentes nos poemas com que me deparo em saraus, em redes
sociais, na televisão, em blogues e os demais canais de interacção, são as
seguintes:
1) Poesia descritiva
Onde
privilegia-se a descrição objectiva do cenário urbano, destacando os vários
problemas urbanos (que não são exclusivos das cidades moçambicanas embora
estejam de certa forma mais acentuados). Geralmente, o poeta faz a descrição
das coisas, do cenário, das pessoas, enfim de tudo que o cerca num discurso
apegado a detalhes que, parecendo ínfimos, vem dar ao texto uma expressividade
tal, do drama que se vive nas cidades e aliando isso aos mandos e desmandos da
classe política. Portanto, em linhas gerais, é uma poesia que vai além da mera
descrição e carrega consigo uma forte carga semântica crítica, quando perpassa
questões como: desigualdade social, criminalidade e corrupção.
2) Poesia obscura
Pode-se
até apelidar de poesia metafísica ou hermética, mas o facto é que os cultores
desta forma de poesia pautam pela abordagem de temas incomuns nos textos dos
anteriores fazedores da poesia em Moçambique (pelo menos, assim, de forma muito
explícita). É uma forma de poesia que indaga sobre questões enigmáticas num
tom, de certo, irónico e por vezes humorístico sem deixar de lado a angústia
que estas questões místicas (como vida e morte, por exemplo) trazem consigo.
Entretanto, a angústia e o humor surgem da dificuldade que todos enfrentamos em
decifrar o indecifrável, numa linguagem, por vezes, rebuscada que confere ao
texto um carácter mais enigmático ainda. Pode-se dizer, desta forma, que esta
forma de poesia é, praticamente, um labirinto formado pelo hibridismo composto
pelo carácter objectivo mas abstracto, triste mas engraçado, meramente
ficcional mas também verdadeiro desta poesia.
3) Poesia Nacionalista/
Memorialista
Nesta
forma de escrever nota-se um certo saudosismo que se manifesta de diferentes
formas. Uma, é de forma nostálgica, sobretudo, quando o intento é exaltar os
feitos dos combatentes das guerras por que o país passou há anos, ou mesmo a um
líder específico, ressaltando o seu particular emenho na luta pela libertação
da pátria. Fazendo assim, uma crítica geralmente subtil à hipocrisia da classe
política actual. A outra, é que o passado é visto como um exemplo a ser
seguido, no sentido em que os “jovens” de ontem tinham dificuldades a sua
frente e, portanto, enfrentaram-nas corajosamente. Desta forma, na poesia este
acto heróico é tido como um estímulo para que os poetas se debrucem sobre os
problemas da sociedade, fazendo o chamado para o lutar necessário, por parte da
sociedade em geral, contra os males que pairam, embora tal luta exija outros meios
diferentes do fogo das armas como teria acontecido outrora.
4) Poesia Intimista
Esta
postura na poesia vem sendo cultivada até mesmo antes da geração Charrua (embora
haja que reconhecer o facto de ter sido com esta geração que esta forma de
estar na poesia fez se mais presente). É, no entanto, a poesia que versa sobre
os amores perdidos e ganhos, embora por vezes tenha cariz nacionalista,
sobretudo, quando de entre outros aspectos, traz nas entrelinhas uma exaltação
da moçambicanidade, por exemplo.
Em
linhas gerais, diria eu que a poesia moçambicana de hoje é feita pelos dramas
do quotidiano, desde os problemas sociais (directamente relacionados com a
sociedade) até às questões existenciais (que parecendo meramente pessoais, são
inerentes a sociedade e/ou humanidade em geral).
No
referente à linguagem, uns pautam por uma linguagem muito erudita e outros nem
por isso, mas, todos desaguam no mesmo aspecto __ o recurso aos "moçambicanismos", e a vocábulos da língua inglesa que entram
no léxico português por via das designações das novas tecnologias e com a
intenção fortemente propositada de espelhar aquilo que são os modismos
adoptados na fala urbana, em especial.
Em
relação aos movimentos e/ou grupos anteriores, este novo grupo de poetas tem
mais uma postura de continuidade do que de ruptura, tendo os anteriores poetas
como modelos que não podem ser completamente contestados mas pelo contrário,
tidos como base e, ajustam este sustentáculo consoante a criatividade pessoal e
as novas exigências desta arte na actualidade (afinal, não estamos numa ilha,
nem que estivéssemos, o mundo anda globalizando-se a cada minuto, hora e dia).
Portanto, perante esta postura de continuidade para com os anteriores fazedores
da poesia em Moçambique, os diálogos intertextuais entre estes grupos são
marcados por paráfrases, epígrafes, citações (uma mais subtis que as outras),
enfim, dentro deste cenário torna-se arriscado considerar uma possibilidade de
haver uma paródia, por exemplo, para com os fundadores da poesia moçambicana,
embora esta nova geração de poetas seja considerada, pelo menos nos __ é bom
que se diga __ restritos encontros de discussão sobre literatura, de GERAÇÃO
DOS ATREVIDOS, devido à sua postura irreverente pelo menos do ponto de vista de
conteúdo e, por vezes, de estilo.
que daria eu como comentário para uma escrita escaldante quanto esta! aplaudir?! não, senão a poesia sai a perder. Aceitar?! não, senão fico de fora, pois a poesia cultivada, segundo se disse no ensaio, é crítica. então, fico neutro! brincadeira. A poesia actual vem a responder aos desafios da actualidade, sou contra todos os que dizem que a literatura moçambicana não têm pés para andar,a poesia é o exemplo claro de que a literatura já galgou o calvari e esta é a hora de provarmos isso! saudosista, intimista, ela é assim moçambicana! Há razão para a busca do léxico inglês pois, é a juventidde que mais cedo se apaixona pelas línguas e a literatura para que seja a marca dela, precisa de se adaptar ao contexto! Mais uma vez, nota 10000000000 para este pequeno [poeta-investigador e crítico literário] de tamanha grandeza. Força
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