quinta-feira, 23 de março de 2023

Caminhos da interdiscursividade: a influência do rap na produção literária de Ernestino Maute

“se a literatura termina só no deleite, eu acho que alguma coisa está aí a falhar”

Ainda estava a nutrir um luto que transcende espaços e tempos do rap nacional. What? Foi a primeira palavra que redigi quando soube do infortúnio através de uma plataforma virtual: foi a minha forma de traduzir o choque.

Neste canto do hemisfério, quando alguém parte, a vida pára: sem festas, sem ruídos, sem coitos, etc. Para mim, estas conversas são uma festa. Nas festas gera-se ruídos. Os ruídos que desta festa podem advir incitam coitos. Destes, a fecundação das almas, quer gostem ou não de rap. É inevitável. Conduzi as conversas entre Janeiro e Fevereiro últimos, longe de imaginar que o nosso tópico conversacional passaria a ter um novo marco: 9 de Março.

No início achei que estivesse a conversar com amigos/colegas escritores que gostam de rap. Debalde. Estes tipos são pensadores. No caso deste, foi fácil perceber: ali sentado, na sua, no meio de umas tantas pessoas que estavam ávidas em acompanhar as incidências do sexto festival internacional de poesia (em Xai-Xai), aparentemente aéreo mas atento ao que se estava a tratar e quieto. Quem não o conhecia não poderia adivinhar a desenvoltura do papo que desenvolve. É coisa dos poetas e pensadores. Gostam de ler. Não só os livros, mas os ambientes em que se encontram, sobretudo quando lhes são algo novo. “É o Ernestino Maute”? Perguntei. 

sexta-feira, 10 de março de 2023

Princípios fundamentais da poética

A poética é uma disciplina clássica do discurso que se ocupa do estudo da poesia e de todos aspectos a ela relacionados. Esta percepção é também partilhada por Garcia (2010) ao afirmar que a poética dedica-se “ao estudo geral da poesia, nos seus aspectos estéticos e filosóficos, bem como o estudo formal dos poemas.” (p. 37)

Contudo, Hansen (1994, p. 59) cit. em Souza (2009) assevera que “a poética transcende a ideia de receituário retórico de poesia, passando a designar a investigação sistemática da natureza e funções da literatura, nomeando a disciplina nuclear dos estudos literários contemporâneos.”

Ainda de acordo com o autor (op. cit.), a Poética significará um entendimento específico de certo autor, época ou género literário, deduzível pelas obras por meio de análise, de onde podem surgir expressões como poética de José Craveirinha, poética do modernismo, poética do neo-realismo, etc.

terça-feira, 7 de março de 2023

A problemática do ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa no ensino primário em Moçambique: origem e perspectivas

A legislação moçambicana legitima o Português como língua de comunicação oficial, língua de instrução e de prestígio, estatuto que já ostentava desde o período colonial. A sua escolha como Língua Oficial e de Unidade Nacional foi uma decisão política tomada pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), ainda no período da luta armada pela independência de Moçambique. Neste período, as comunicações internas no seio da Frelimo eram difundidas em Português por se considerar que, apesar do contexto histórico a ela inerente, serviria de instrumento de unificação de um povo multiétnico e multilingue.

quinta-feira, 2 de março de 2023

Caminhos da interdiscursividade: a influência do rap na produção literária de Alerto Bia

"de alguma forma, acabo fazendo uso das ferramentas que encontramos no rap na minha própria produção literária"

Já tinha lido o nome em 2014 quando co-organizava uma antologia que publicou poesia feita em Gaza e Niassa. Só em 2021 associei o nome ao rosto. Foi numa feira do livro, em Inharrime. Disse que me queria ler em livro, passei-lhe um dos últimos exemplares que levava comigo. Ainda irei procurar outro fórum para saber da impressão que terá tido daquelas coisas que lá andam. Hoje o papo é outro.

Ando, há já algum tempo, com esta ideia de seguir as pegadas da interdiscursividade que se inscreve entre o rap e a literatura feita nestes dias. Incluí-lo neste experimento era inevitável. Primeiro, pela vivência em Niassa, onde se deu parte da sua amizade com as letras e, segundo, pelo seu afecto com o rap. Não foi difícil perceber isso durante a viagem que fizemos de Inharrime a Quissico. Estávamos ali com Celso Muianga, Almeida Cumbane e Emílio Cossa. Com este último deu para dialogar sobre rap que passava pelo rádio do carro. Com os dois primeiros, só a natureza à beira do asfalto virava tema de conversa e outras tantas coisas. Mas nada de rap.

Demorei perceber, mas não precisava de tanto. Dois minutos de conversa seriam necessários. Mas, cá entre nós, ter mais do que isso é um labor. O homem é de poucas palavras. Deve ser pelo facto de haver, na sua escrita, sinais claros de uma genica para haicais. Se nunca o considerou, devia pensar seriamente nisso.

Nunca o disse a ele. Talvez o pudesse dizer se esta conversa tivesse ocorrido nas imediações do rio Inharrime com um aroma de lúpulo à mistura. Esse era o plano. Mas não deu. Fiz outras viagens sentado numa esteira em Xai-Xai e com um telemóvel à mão. Não foi desta, mas em breve iremos conversar sobre os seus escritos dispersos em antologias e periódicos pelo mundo afora e, sobretudo, reunidos em “Sonhar é Ressuscitar” (2016); “Sombras Cálidas” (2017), “O Desassossego por Dentro” (2021) e “O Ardina de Sapatos Gastos” (2022).