Para
os estudiosos e policiais assumidos da língua, a isto chamaríamos de extensão
semântica: refiro-me às conotações que podem advir do uso do termo “COMER”.
Vejam:
todo santo diabo que se diz macho, quando atingido pela vontade que condiz com o
seu papel para com as fêmeas diz: estou com uma AVC a minha namorada, noiva,
baby, chick, darling ou gaja, para os mais grosseiros (grosseria ou não, cada
um cria um nome a seu gosto e vontade para a sua flor-de-lótus).
Sabe,
se tivesse que pagar imposto pela importação ou (para usar um termo menos alfandegariamente comprometedor) download de e-books estaria “à beira de
um ataque de nervos” porque o sistema alfandegário moçambicano teria
qualquer coisa como um AVC (Alta
Vontade de me Comer…financeiramente, claro) e até aos dias que correm estaria
encarcerado (vendo o sol aos quadradinhos), solitário e, de tanto matutar,
chegado a uma das conclusões mais absurdas de todos os tempos: “o sol tem o formato de um favo…”
verão está a chegar sem cerimónias. É sinal de
que o ano está a findar. Resultados serão publicados. Um bom número vai
reprovar. Outro simbólico vai transitar. A sociedade vai alarmar-se.
Abrir-se-ão debates sobre a qualidade de ensino em Moçambique, e quando isso
acontecer, as minhas questões serão: o que é qualidade de ensino? Quais os
critérios para medi-la?
Entretanto,
antes que tais debates que, aliás, gozam de alguma futilidade perante um ainda
maior problema que se nos coloca, sejam abertos gostava de proferir algumas
palavrinhas que me chegaram à mente:
É
certo que todos temos o livre arbítrio de expressarmo-nos a bel-prazer e
ninguém pode ser condenado por isso, a não ser que os seus pronunciamentos
extrapolem os ditames do BOM SENSO e BOM GOSTO.
Sabe,
lidar com literatura numa sociedade que como por uma praga das mais “peçonhentas”,
fora consumida pelo imediatismo, é expor-se a questões como: Literatura para quê? Esta malta não têm algo
melhor a fazer?
Estas
coisas de nos envolvermos com a escrita literária e seus campos adjacentes
tornam-nos tão hipócritas que nem nos damos conta disso. Consideremos, portanto,
que a noção de hipocrisia aqui trazida é deveras literal para que se submeta
sem reservas a qualquer estereótipo preconcebido pelas e entre as pessoas.
Vejamos, ao envolvermo-nos com a escrita, criamos uma personagem a nosso gosto,
ponderação e exigência para que fale por nós de forma bela, acima de tudo, em
sessões de autoterapia a que chamamos de exercício artístico. E, sem nos
apercebermos, esse Outro (artístico) torna-se muitas vezes diferente do Eu
(sujeito biopsicosociocultural). Daí a velha e célebre frase Pessoana: “o poeta é um fingidor”.
Sou melomaníaco
assumido. É exactamente esta a razão que me fez dar ouvidos a uma música linda
(no mais preciso sentido do termo) intitulada “if you are out there” cuja autoria é atribuída a John Legend. Repeti
a música por não sei quantas vezes porque há lá dizeres de extrema
significância, entre os quais teríamos:
Encontrei
Manusse José pelas ondas da internet. Eu, navegando de Xai-Xai para o mundo, e
ele, de Luanda, também para o mundo, passando por Xai-Xai (Moçambique) – sua
terra natal. Nestas navegações encontramo-nos. Além de um encontro virtual de
dois indivíduos, aquilo era o encontro de duas almas inquietas que na busca da
quietude foram se crivar nos braços da literatura. É por esta e outras razões
que o convidei a ter uma conversa fiada comigo, Elísio Miambo.
Nestes
últimos dias decidi ser mais gentil com a mass media. Oiço, leio e assisto tudo
que é noticia que eles dão. Já nem se quer me incomodam os seus grifos cuja
condição sine qua non para atingirem o seu intento que é vender, vender e
vender mais ainda, é que sejam bombásticos e sensacionalistas. Agora não ligo
mais para estas coisas. Imagine se eu tivesse que questionar a forma como o
dinheiro chega aos cofres das instituições tanto do estado assim como
privadas: seria um frenesim que daria pano para mangas, pois não?