terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os soluços do Sr. Dito Cujo Ensino Secundário Geral

a)
O
 verão está a chegar sem cerimónias. É sinal de que o ano está a findar. Resultados serão publicados. Um bom número vai reprovar. Outro simbólico vai transitar. A sociedade vai alarmar-se. Abrir-se-ão debates sobre a qualidade de ensino em Moçambique, e quando isso acontecer, as minhas questões serão: o que é qualidade de ensino? Quais os critérios para medi-la?
Entretanto, antes que tais debates que, aliás, gozam de alguma futilidade perante um ainda maior problema que se nos coloca, sejam abertos gostava de proferir algumas palavrinhas que me chegaram à mente:
Por onde anda a aplicabilidade do Ensino Secundário Geral (doravante ESG), em contexto prático?
Se, grosso modo, todo o acto de ensinar preconiza o saber: ser, estar, fazer e saber, será que o nosso ESG responde a estas exigências?
- Ah! Sim e não…
Como raramente acontece, esta questão coloca-me em cima do murro. Por um lado, existe um “sim” com bases egoístas, porque a respostas seria: eu sou fruto deste sistema de ensino e sei ser, estar, fazer e saber (o quê, não vem ao caso).
Por outro, existe um “não” que tem bases estritamente lúcidas e por assim ser, a sua lucidez chumba a primeira assunção com bases egoístas.
Ya! Parece que agora não estou mais em cima do murro…(risos)

b)
F
ala-se muito de desemprego e encoraja-se o empreendedorismo por parte das vítimas do nosso saudoso sr. Dito Cujo Ensino Secundário Geral.
Facto: o american dream de todos que percorrem esta via, é terminar a 12ª classe e cursar alguma coisinha numa das nossas universidades cuja quantidade é de louvar…
A maca inicia quando tal ilusão é desiludida (rsrsrsrs) e a vítima do ESG, com a 12ª classe concluída e com o sonho de ir à faculdade transformado numa relíquia sagrada que por assim ser, passará a ser revisitada todo o santo ano que as universidades abrirem portas para candidatos a caloiros.
É com este quadro de pensamentozinhos que todos despertam no dia seguinte, com a cara cheia de olheiras e perguntam-se:
- e agora, o que faço? Procuro emprego? Crio o auto-emprego?
Só mais tarde quando as ideias começam a aclarar-se, é que a vítima do ESG percebe que sabe tudo em matérias do nada. E, se sabe alguma coisinha, não foi a escola que lhe orientou (escuso dos exageros)

c)
S
aindo à rua, tudo isso está nítido:
As ruas estão cheias de jovens repetidores de matérias que a escola formou e de quem a sociedade cobra uma criatividade que a escola ofuscou e, até certo ponto, marginalizou.
Passaram-se doze anos da vida de um ser humano, e tudo que aconteceu no seu exercício lectivo foi distração. Teve que ser distraído por logarítimos, expressões algébricas, silogismos e outras quinquilharias. E, quando voltasse à casa deparava-se com um cano estragado, uma fechadura também estragada, um interruptor por trocar e a partir deste cenário o “castelo de palha começava a entrar em bancarrota.” E o que advêm disto tudo é um emaranhado de questões por serem respondidas por não sei quem:
De que servem lhe servem as distracções que a escola lecciona.
Qual é a sua aplicabilidade do ponto de vista do saber fazer?

d)
A
ssistimos agora a introdução de novas distracções que revelam alguma praticidade - haja sinceridade.
São coisas como TIC (tecnologias de informação e comunicação), empreendidorismo, agropecuária e outras.
Todavia, eu costumo ver isto num sentido metafórico: isto seria como introduzir um detergente num balde de água que se suspeita que tenha impurezas. Contudo, a minha metáfora aqui não se aplica porque a introdução destas grandes e louváveis disciplinas não anula a presença das distracções.
Então diríamos que a introdução destas disciplinas nos moldes em que está agora seria qualquer coisinha como untar com uma essência rara e bem aromática, um corpo que exala catinga – creio que esteja a imaginar a confusão aromática em que isso deve resultar, visto que não se realizou, ao menos, um banho-maria no corpo que beneficiara da cheirosa essência. 

E mais não disse.
Fiquem bem, até “Os soluços do Sr. Dito Cujo Ensino Secundário Geral – parte II”

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