É
certo que todos temos o livre arbítrio de expressarmo-nos a bel-prazer e
ninguém pode ser condenado por isso, a não ser que os seus pronunciamentos
extrapolem os ditames do BOM SENSO e BOM GOSTO.
Sabe,
lidar com literatura numa sociedade que como por uma praga das mais “peçonhentas”,
fora consumida pelo imediatismo, é expor-se a questões como: Literatura para quê? Esta malta não têm algo
melhor a fazer?
E, algo hilário nestas falas ocas é que as pessoas assim se expressam como forma de esconder as suas limitações epistemológicas e, volta e meia dizem: “ah! Não…é que…é que eu…eu prefiro curtir um movie, um bom som, as novelas já nem falo…não perco uma se quer…mas, essas coisinhas de literatura é para gajos desocupados…gajos com tendências nerd…”
E, algo hilário nestas falas ocas é que as pessoas assim se expressam como forma de esconder as suas limitações epistemológicas e, volta e meia dizem: “ah! Não…é que…é que eu…eu prefiro curtir um movie, um bom som, as novelas já nem falo…não perco uma se quer…mas, essas coisinhas de literatura é para gajos desocupados…gajos com tendências nerd…”
Ah!
Haja lucidez!
A este
tipo de coisas respondo melhor calando, mas, porque não gosto de ser
monótono, hoje decidi falar. Vou começar por dizer que andar longe das obras
literárias (escritas ou orais) é uma das piores escolhas que um indivíduo pode
fazer. E, partindo do infelizmente matemático princípio das escolhas, segundo o
qual as nossas escolhas incidem positiva ou negativamente em nós mesmos (tarde
ou cedo)…essa escolha é algo de lamentar
até para mim que sou contra-lamentações.
Primeiro,
porque nelas (nas obras) encontramos o saber e lazer numa simbiose jamais vista
noutro canto. E, segundo, porque esse “diabo” corre atrás de ti na música, no
filme, em tudo quanto é lado. Quantas vezes escutaste uma música que retoma um
poema ou assististe a um filme que retoma um romance ou novela (escrita)?...e,
olha que por vezes a estória chega lá um
pouco deturpada…que lástima!
Ora,
sendo que vivemos num mundo catedrático e joguinhos do tipo “faz de contas”, façamos de contas que a literatura é mesmo uma sopa sem sal. No
entanto, a pergunta que nos surge em seguida é: o que prende tamanha multidão,
lúcida, numa “sopa sem sal” desde que
o mundo é o que é?
_ “Ah! Sempre houve gente para tudo.”-
seria uma possível resposta.
E,
se sempre houve gente para tudo, porquê diante de tantas opções tentadoras no
cardápio, as pessoas finam-se numa sopa sem sal? - Exotismo é que não é.
Ponderemos
a possibilidade de isto ser um entretenimento, uma distracção, um relaxamento.
Claro! Este argumento é convincente até aos ouvidos de um playboy que não liga a mínima para isto. Visto que a frase de
Baudelaire já se estendeu pelo mundo afora e que segundo a qual “a poesia (portanto a literatura) é a infância que se encontrou de novo.”
O que nos remete aos joguinhos de palavras iguais ao pula-pula que é o delírio da pequenada, e, também, ao processo de
reinvenção de mundos e conceitos equiparável ao monta e desmonta de
brinquedinhos e bonecos criados pelos adultos à semelhança de Deus (criador do mundo). Dito de outro modo: o adulto cria os bonecos e a criança na
sua inocente e criativa infância desmonta-os, vira-os e revira-os para ver de
que são feitos e o que lhes faz ser algo diferente de si. Enquanto isso, o
escritor questiona e desmonta o mundo criado por Deus e sugere uma outra ordem
das coisas naqueloutro mundo que ele cria baseiando-se neste, criado pelo Omnipotente.
Se
calhar Deus nem goste destes gajos, sabe!?
Entretanto,
se a literatura for uma brincadeirinha, um divertimento…que delight pode advir da “simples” empatia
e identificação para com as crises, traumas e até alegrias da vida de uma
personagem de um romance, novela ou conto? Porquê uma “sopa sem sal” como essa
envolve-nos até ao íntimo como se uma coisa do “mundo da lua” nos dissesse
respeito?
Bem,
se a tua resposta é: não sei! A minha
é obvia e sem parábolas: tudo isto prova que a literatura não é uma sopa sem
sal.
Obviamente,
a partir do momento que ela diverte (tem ludicidade), embeleza até nas
circunstâncias dignas de choro e luto (tem carácter estético), desconstrói
visões estereotipadas e dá respostas às questões jamais feitas (tem papel
cognitivo) e entre outras tantas coisas, envolve, abstrai e incita ao desabafo
(incita à catarse) – ela (a literatura) prova que é uma sopa com sal e mais
alguns ingredientes não muito fáceis de encontrar em outras paragens, o que lhe
confere a indispensabilidade no dia-a-dia de quem pretende ser o protótipo de
bom vivedor da vida.
Pronto! Agora chega…são 9:00 horas da noite e
antes de me deitar, tenho de consumir a sopa de que estamos a falar. Faça de
contas que estás convidado.
Ora bem, a sopa sem sal não ganha nenhum outro sabor sem este ingrediente! Plausível e este artigo que realça a importância da literatura para o mundo contemporâneo, onde tudo revela-se fundamentalmente no faz de contas, talvez e ate mesmo se calhar.
ResponderEliminarEnfim, parabéns, caro Elísio pelo ludibre texto!
...obrigado! A missão continua sendo a mesma: difundir e discutir saberes.
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