sexta-feira, 21 de março de 2025

Se não tens um editor/revisor/crítico que não te tira sono, estás perdido!

Quer queiramos, quer não, há gente que é paga para ser chata. Salvo o crítico que nada recebe por isso. Já tivemos essa conversa em outras ocasiões e não há necessidade de retorná-la.
O escritor é um ser que vive de tentativas. Gosta de experimentar. Faz parte do processo criativo: testar hipóteses de geração de sentido; apagar; repensar; transgredir; inovar. Enfim, é, regra geral, um ser insatisfeito com o que está estabelecido.

Essa insatisfação nem sempre gera obras primas. Ou porque nem sempre o que está estabelecido é mau; ou porque a inovação precisa de estar em harmonia com outros aspectos internos ao texto; ou, mais ainda, até pode estar a inovar, mas há aspectos extratextuais que possam condicionar essa inovação ou transgressão.

Seja por um ou outro caminho, há sempre uma voz que deverá ser ouvida pelo escritor para que a sua intenção possa ganhar forma. Uma das virtudes de um escritor é saber ouvir. Mas não deve ouvir muito para não matar a sua arte. (Risos). Deve ouvir o que o seu editor/revisor/crítico tem a dizer. Seja quem for que estiver a vestir uma destas fardas, ainda que lhe seja uma pessoa próxima, deve ser alguém que não tem reservas para o contrariar; para dizer certas coisas que o possam fazer "cair na real". Que além das palmadinhas falsas e vazias nas costas, coisa muito comum nos corredores da arte, em geral, possa ter um nível de análise dos prós e contras do texto e ser um conselheiro para o escritor. Aquela pessoa com quem estabelecemos uma conversa, ainda que seja de 5 minutos, e aprendemos coisas novas, exactamente por causa da sua chatice.

Seja quem for o indivíduo que ocupa uma destas funções, devia ser aquele tipo de contacto que o escritor tem, mas que o veja como um limão. Sim, um limão. Azedo, mas indispensável no dia-a-dia. Não se quer dizer que a actividade dessa pessoa seja a de contrariar o génio criativo, pelo contrário. Deve ser a de compreender o alcance de quem escreve e acrescer o toque necessário que só o limão ou os seus derivados dão a um bom grelhado.

É certo que seja um ou outro, não são sujeitos perfeitos. Detentores da verdade sobre a escrita. O poço da excelência. Nada disso. São pessoas que podem muito bem ser desvirtuadas pelas suas agendas mercantis, académicas, corporativas ou de outros interesses. Ou pior ainda, estarem a gravitar num mundo criativo que está muito aquém do que o escritor explora. Seja qual for o seu "pecado", valerá ao escritor o efeito do contraditório. O saber ouvir que aludi acima, não significa uma aceitação incondicional de tudo quanto é dito. Vezes há em que o editor/revisor/crítico é apenas a amostra de um certo tipo de leitor que o escritor quer compreender para fazer ajustes no seu labor criativo.
Em todo caso, a chatice do editor/revisor/crítico não deve ser obra do acaso ou sustentada pelo prazer de ser chato. Mas deve ser algo sustentado numa pesquisa constante. Numa leitura não só de livros, mas de mundos: o seu e o dos outros. Deve ser resultado da curiosidade diária. Há destinos primorosos para os quais só a curiosidade e busca constante de conhecimento nos levam! 

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