sexta-feira, 14 de março de 2025

Não rasgue teus textos por causa da apreciação de um certo crítico, professor de literatura ou de escrita criativa

Chegará o dia em que vou encontrar denominações para o que faço nesta coluna: tasaver. Por enquanto, vale o efeito da provocação. Da diversificação da pauta de debate em redes de chat e outros cantos (não é só de política e de fofocas que se faz o homem). Este exercício é um fim em si mesmo, salvo a pretensão de reunir estas linhas num volume.

Escrevo este e outros textos com um à vontade curioso. Não me considero crítico literário. Não sou professor de literatura. Não faço, ainda, mentoria de escrita criativa. Faço outras coisas: escrever, editar, leccionar língua e criar provocações. Honestamente, boa parte destas provocações surgem no contexto da edição de textos.

No quadro do que faço e deixo de fazer, percebo que nem tudo está escrito nos manuais de teoria de literatura, nos compêndios sobre escrita criativa ou em livros de ensaios de renomados críticos literários. Há zonas em que só a criatividade nos leva e só ela é autoexplicativa do alcance que se pretende com determinada construção. 

Poderão os críticos e os académicos interessados em tal efeito criativo encontrar bases explicativas que possam descortinar, quiçá, o processo por detrás de certo resultado, mas nem sempre será um exercício exequível. São daqueles casos em que a única teoria válida é o génio criativo do autor do texto.

Muitas vezes, o exercício criativo faz-se na liberdade, ou na busca dela. Faz-se fora da caixa. Há casos em que se trata de um mero acaso. Obra do inconsciente. Em outros, não poucos, é um acto consciente, qual adolescente que diante da insistência do pai para usar cinto ou gravata, vê-se sufocado e decide arrumar tal coisa na mochila e segue firme. Dono de si. Cheio de vida. Só mais tarde é que ouve comentários da dispensabilidade desses elementos da vestimenta masculina em determinadas circunstâncias.

Portanto, são daqueles raros casos em que a casmurice é uma virtude. Mas tal só vale se for premeditada. Calculada. Pensada a serviço de um efeito de sentido no texto que se está a produzir, e não sob a égide de uma concepção desviante segundo a qual em literatura vale tudo. Esta é das mais pertinazes ideias que governa muitos fazedores desta arte, mas que parte de uma colocação justa definida nos seguintes termos: "a construção verbal do texto literário está além das convenções usuais do sistema linguístico". 

Isso, por si só, não é uma chancela para um festival de atropelos, mas para uma consciência de que a palavra, a frase, a pontuação e outros aspectos, subordinam-se ao significado estético e não a um purismo linguístico. Dizer isto e dizer que "vale tudo" parece a mesma coisa, mas não é. 

O atropelo ao que é linguisticamente aceitável deve ser premeditado. Pensado a serviço de um efeito estético desejado e se este efeito conservar uma intenção de geração de sentido numa certa instância (ainda que seja surreal), melhor ainda. É tudo um jogo de equilíbrio entre o que está estabelecido e a força do génio criativo de cada um. 

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