segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

MODOS DE EXPRESSÃO NUMA NARRATIVA

Uma narrativa pode apresentar várias modalidades de discurso. O discurso do narrador, mais próximo da ficção narrada, no qual encontramos a narração e a descrição e, por outro lado, temos o discurso das personagens mais distante do narrador que se apresenta sob as formas de diálogo e monólogo.
No que diz respeito à narração, esta corresponde ao “relato de acontecimentos e conflitos situados no tempo e encadeados de forma dinâmica”.
E, pode se dizer também que a narração é a parte da narrativa onde há o desenvolvimento da acção da obra (um romance, por exemplo).
Assim sendo, a narração é feita por um narrador que relata acontecimentos que dizem respeito a agentes (pessoas ou outros seres). Os acontecimentos desenrolam-se no espaço e no tempo.
Tenhamos como exemplo:
“Tinha cada um seu sonho para a festa de Santa Eufémia.
O Nobre, era deslindar umas contas velhas com o Marcolino; a mulher, era pagar a promessa que fizera (por causa de ferrujão dos bois); a filha, era passar noite no arraial, a dançar a cana verde nos braços do namorado. (…)” in MiguelTorga, Novos contos da Montanha

Em linhas gerais, pode-se dizer que a narração deve ser viva a fim de captar o interesse de quem lê vou ouve, e para tal, há o recuso a tempos verbais como o pretérito perfeito e o presente do indicativo. Além destes, na narração recorre-se também a verbos de movimento e formas verbais do imperfeito e mais-que-perfeito.
Portanto, no que diz respeito ao registo de língua, a progressão textual da narrativa resulta da convergência de variados meios linguísticos: morfológicos, sintácticos, semânticos e textuais. Assim sendo, uma narração deve comportar:
1.      Um acontecimento a narrar;
2.      A presença de agentes (personagens);
3.      Uma articulação narrativa (numa só sequência ou numa sucessão combinada de sequências);
4.      Uma sequência temporal (simultaneidade ou sucessão: depois, em seguida, mais tarde, ao mesmo tempo) e/ou sequencialização causal (porque, então, por causa de);
5.      Verbos de movimento que impliquem uma acção (trabalhar, correr, ler);
6.      Tempos verbais (pretéritos: perfeito, mais-que-perfeito)
7.      Expressões temporais para situar a acção (naquele dia, ontem, o ano passado, em 1992);
8.      Expressões de lugar para localizar a acção (naquela casa, aqui, na rua)
9.      Conectores, com vista a organização do discurso.
Em relação à descrição, esta contêm informações sobre as personagens, os objectos, o tempo e os lugares, que interrompem a dinâmica da acção e vão desenhando os cenários e, esta integra-se na narração.
Portanto, enquanto a narração representa a parte dinâmica no desenvolvimento da acção, a descrição representa um momento estático. As descrições enriquecem a obra fornecendo informações adicionais (sobre personagens, os objectos, o tempo e os lugares), tornando o texto/obra mais fácil de perceber. Daí a razão de se dizer que “descrever é pintar por palavras”.
Tenhamos como exemplo:
“(…) Entretanto anoitecera, e arraial abria na escuridão da serra uma clareira luminosa, intensa de vida e paixão. As músicas desafiavam-se o mais rumorosamente que podiam, os foguetes estoiravam no ar como bombas de dinamite, os pares levantavam nuvens de pó, havia mocadas aqui e além, e nas barracas comia-se, bebia-se e jogava-se a vermelhinha. (…)” in Miguel Torga, Novos contos da Montanha

Desta forma, conclui-se que quando um texto narrativo dá grande importância à acção, predominam as narrações. Quando se atribui maior importância a aspectos informativos, predominam as descrições.
No referente ao registo de língua predominante, pode-se afirmar que recorre-se a verbos copulativos/de ligação e formas verbais do pretérito imperfeito.
Neste contexto, Nascimento (2006) afirma que o pretérito imperfeito é o tempo verbal que por excelência é usado, nomeadamente em descrições de paisagens. E, frequentemente, recorre-se a figuras de estilo adequadas, como comparações e imagens.
Assim sendo, a descrição pode comportar:
·         Descrições de personagem
Às vezes, as personagens, podem ser caracterizadas directamente, em fragmentos de texto expressamente destinados a esse fim, quer seja a própria personagem a falar, quer seja outra personagem, ou mesmo o próprio narrador. Mas pode se caracterizada indiscretamente, de maneira dispersa ao longo do texto/obra, a partir das falas da própria personagem ou de outras personagens, a partir dos actos e reacções da personagem que possam levar o leitor/ouvinte a tirar as suas conclusões sobre a caracterização dessa tal personagem.
Na caracterização pode apresentar-se:
·         O retrato físico __ é constituído pelos atributos da personagem, sobretudo, quando se faz uma primeira apresentação da personagem dando o retrato físico para uma posterior abordagem acerca do seu retrato psicológico (seja o narrador ou outra personagem). Trata-se de uma estratégia a que o articulista recorre.
·         O retrato psicológico __ é constituído pelos atributos mentais da personagem. Quando se faz uma apresentação dando apenas o retrato psicológico porque quem descreve já terá dado antes o físico ou poderá vir a dá-lo depois.
·         Ambos retratos __ na maioria dos casos, durante a descrição das personagens, o articulista dá-nos ao mesmo tempo os dois retratos, o físico e o psicológico.
Assim sendo, diz-se que uma descrição deve comportar:
1.      Verbos que, semanticamente, enceram um valor durativo e iterativo.
2.      Determinados verbos como estar (que indica um estado) ser (que predica a totalidade do objecto __ Ângela era linda.) ter (que predica uma parte do objecto __ Ângela tem olhos lindos);
3.      Determinados tempos verbais como o imperfeito do indicativo (que traduz a simultaneidade e a continuidade __ Ela queria estar comigo; o presente de atestação __ Xai-Xai é uma cidade monumental; e o futuro de previsão __ Ela virá a ser óptima companheira.
4.      Advérbios e expressões de tempo e de lugar (para localizar lugares e situar o tempo e épocas);
5.      Adjectivos;
6.      Conectores com valor aditivo (e, de novo, igualmente) enumerativo (primeiro, depois, em seguida)
Em relação ao diálogo, trata-se de:
a) Interacção verbal ou conversa entre duas ou mais personagens (discurso directo com registos de língua variados).[5]
b) É uma situação especial da narração, que consiste na troca de falas entre personagens. O diálogo deve revestir-se de características de vivacidade.[6]
Três funções principais do diálogo são: dar maior dinâmica à acção, cativar a atenção do alocutário e caracterizar as personagens.
Tenhamos como exemplo:
__ Quando vamos à vila? _ Perguntava a rapariga dois meses antes, a pensar na saia nova de merino.
__ Tens tempo…respondia o pai, que também acalentava o desejo inconfessado de uma faixa de cinco voltas. In Miguel Torga, Novos contos da Montanha
Portanto, para assinalar o diálogo, a nível gráfico, recorre-se geralmente a dois pontos e a travessão (ou por vezes as aspas) e a verbos declarativos que introduzem as falas (abrindo um parágrafo) ou aparecem no meio delas, as concluem.
Além do diálogo, no que diz respeito ao discurso das personagens, pode-se destacar o monólogo que é uma conversa da personagem consigo mesma, discurso mental não pronunciado ou pronunciado, mas sem ouvinte (discurso directo com frases simples e reduzidas).
Exemplos:
__ Oh! Meu Deus da minha alma, que há-de ser de mim?!...._ gemia a Otília.
__ Agora já ele sabe quem é covarde!... _ farroncava o Nobre.

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