No
que diz respeito à narração, esta corresponde ao “relato de acontecimentos e conflitos situados no tempo e encadeados de
forma dinâmica”.
E,
pode se dizer também que a narração é a
parte da narrativa onde há o desenvolvimento da acção da obra (um romance, por
exemplo).
Assim
sendo, a narração é feita por um narrador que relata acontecimentos que dizem
respeito a agentes (pessoas ou outros seres). Os acontecimentos desenrolam-se
no espaço e no tempo.
Tenhamos
como exemplo:
“Tinha cada um seu sonho para
a festa de Santa Eufémia.
O Nobre, era deslindar umas
contas velhas com o Marcolino; a mulher, era pagar a promessa que fizera (por
causa de ferrujão dos bois); a filha, era passar noite no arraial, a dançar a
cana verde nos braços do namorado. (…)” in MiguelTorga, Novos contos da
Montanha
Em
linhas gerais, pode-se dizer que a narração deve ser viva a fim de captar o
interesse de quem lê vou ouve, e para tal, há o recuso a tempos verbais como o
pretérito perfeito e o presente do indicativo. Além destes, na narração
recorre-se também a verbos de movimento e formas verbais do imperfeito e
mais-que-perfeito.
Portanto,
no que diz respeito ao registo de língua, a progressão textual da narrativa
resulta da convergência de variados meios linguísticos: morfológicos,
sintácticos, semânticos e textuais. Assim sendo, uma narração deve comportar:
1.
Um acontecimento a narrar;
2.
A presença de agentes
(personagens);
3.
Uma articulação narrativa (numa só
sequência ou numa sucessão combinada de sequências);
4.
Uma sequência temporal
(simultaneidade ou sucessão: depois, em seguida, mais tarde, ao mesmo tempo)
e/ou sequencialização causal (porque, então, por causa de);
5.
Verbos de movimento que impliquem
uma acção (trabalhar, correr, ler);
6.
Tempos verbais (pretéritos:
perfeito, mais-que-perfeito)
7.
Expressões temporais para situar a
acção (naquele dia, ontem, o ano passado, em 1992);
8.
Expressões de lugar para localizar
a acção (naquela casa, aqui, na rua)
Em
relação à descrição, esta contêm informações sobre as personagens, os objectos,
o tempo e os lugares, que interrompem a dinâmica da acção e vão desenhando os
cenários e, esta integra-se na narração.
Portanto,
enquanto a narração representa a parte dinâmica no desenvolvimento da acção, a
descrição representa um momento estático. As descrições enriquecem a obra
fornecendo informações adicionais (sobre personagens, os objectos, o tempo e os
lugares), tornando o texto/obra mais fácil de perceber. Daí a razão de se dizer
que “descrever é pintar por palavras”.
Tenhamos
como exemplo:
“(…) Entretanto anoitecera, e
arraial abria na escuridão da serra uma clareira luminosa, intensa de vida e
paixão. As músicas desafiavam-se o mais rumorosamente que podiam, os foguetes
estoiravam no ar como bombas de dinamite, os pares levantavam nuvens de pó,
havia mocadas aqui e além, e nas barracas comia-se, bebia-se e jogava-se a
vermelhinha. (…)” in Miguel Torga, Novos contos da
Montanha
Desta
forma, conclui-se que quando um texto narrativo dá grande importância à acção,
predominam as narrações. Quando se atribui maior importância a aspectos
informativos, predominam as descrições.
No
referente ao registo de língua predominante, pode-se afirmar que recorre-se a
verbos copulativos/de ligação e formas verbais do pretérito imperfeito.
Neste
contexto, Nascimento (2006) afirma que o pretérito imperfeito é o tempo verbal
que por excelência é usado, nomeadamente em descrições de paisagens. E,
frequentemente, recorre-se a figuras de estilo adequadas, como comparações e
imagens.
Assim
sendo, a descrição pode comportar:
·
Descrições de personagem
Às
vezes, as personagens, podem ser caracterizadas directamente, em fragmentos de
texto expressamente destinados a esse fim, quer seja a própria personagem a
falar, quer seja outra personagem, ou mesmo o próprio narrador. Mas pode se
caracterizada indiscretamente, de maneira dispersa ao longo do texto/obra, a
partir das falas da própria personagem ou de outras personagens, a partir dos
actos e reacções da personagem que possam levar o leitor/ouvinte a tirar as suas
conclusões sobre a caracterização dessa tal personagem.
Na
caracterização pode apresentar-se:
·
O retrato físico __ é constituído
pelos atributos da personagem, sobretudo, quando se faz uma primeira
apresentação da personagem dando o retrato físico para uma posterior abordagem
acerca do seu retrato psicológico (seja o narrador ou outra personagem).
Trata-se de uma estratégia a que o articulista recorre.
·
O retrato psicológico __ é
constituído pelos atributos mentais da personagem. Quando se faz uma
apresentação dando apenas o retrato psicológico porque quem descreve já terá
dado antes o físico ou poderá vir a dá-lo depois.
·
Ambos retratos __ na maioria dos
casos, durante a descrição das personagens, o articulista dá-nos ao mesmo tempo
os dois retratos, o físico e o psicológico.
Assim
sendo, diz-se que uma descrição deve comportar:
1.
Verbos que, semanticamente,
enceram um valor durativo e iterativo.
2.
Determinados verbos como estar
(que indica um estado) ser (que predica a totalidade do objecto __ Ângela era
linda.) ter (que predica uma parte do objecto __ Ângela tem olhos lindos);
3.
Determinados tempos verbais como o
imperfeito do indicativo (que traduz a simultaneidade e a continuidade __ Ela
queria estar comigo; o presente de atestação __ Xai-Xai é uma cidade
monumental; e o futuro de previsão __ Ela virá a ser óptima companheira.
4.
Advérbios e expressões de tempo e
de lugar (para localizar lugares e situar o tempo e épocas);
5.
Adjectivos;
6.
Conectores com valor aditivo (e,
de novo, igualmente) enumerativo (primeiro, depois, em seguida)
Em
relação ao diálogo, trata-se de:
a)
Interacção verbal ou conversa entre duas ou mais personagens (discurso directo
com registos de língua variados).[5]
b)
É uma situação especial da narração, que consiste na troca de falas entre
personagens. O diálogo deve revestir-se de características de vivacidade.[6]
Três
funções principais do diálogo são: dar maior dinâmica à acção, cativar a
atenção do alocutário e caracterizar as personagens.
Tenhamos
como exemplo:
__ Quando vamos à vila? _
Perguntava a rapariga dois meses antes, a pensar na saia nova de merino.
__ Tens tempo…respondia o pai,
que também acalentava o desejo inconfessado de uma faixa de cinco voltas. In Miguel Torga, Novos contos da
Montanha
Portanto,
para assinalar o diálogo, a nível gráfico, recorre-se geralmente a dois pontos
e a travessão (ou por vezes as aspas) e a verbos declarativos que introduzem as
falas (abrindo um parágrafo) ou aparecem no meio delas, as concluem.
Além
do diálogo, no que diz respeito ao discurso das personagens, pode-se destacar o
monólogo que é uma conversa da personagem consigo mesma, discurso mental não
pronunciado ou pronunciado, mas sem ouvinte (discurso directo com frases
simples e reduzidas).
Exemplos:
__
Oh! Meu Deus da minha alma, que há-de ser de mim?!...._ gemia a Otília.
__
Agora já ele sabe quem é covarde!... _ farroncava o Nobre.
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