quarta-feira, 13 de julho de 2022

TASAVER: amar em tempos líquidos!

Migramos por este don’t tell nobody ou outro túnel qualquer, como se a gestão da fala e da imagem pudesse ser cúmplice e que o estado líquido em que vivemos, tal como o velho Bauman descreve, fosse só uma quimera. O que ninguém sabe, ninguém estraga: nós dissemos. Que o mundo está uma aldeia não nos ocorre tão bem!

Depois da primeira revelação desse facto, damos um salto para o don’t listen to what they say porque as falas sobre nós ou sobre o que as pessoas julgam saberem de nós começam a desfazer o castelo de cartas em que a nossa descrição se tornou. Já temos holofotes. Somos estrelas nos seus quinze minutos de fama. Cinco da descoberta. Outros cinco do auge. E os últimos cinco do patético declínio no anonimato.

É mesmo isso: esta vida de redes prova-nos, a cada dia, que está a contragosto de toda e qualquer forma de descrição. Da fala comedida. Da gestão de aparições.

Entre feixes de alegria e orgasmos ornados de juras de eternidades com idades de um piscar de olhos, somos felizes, mesmo assim, neste novo sempre. Quais macacos vamos pulando de galho em galho criando sempres em cada galho que nos acolhe. Porque o sempre de hoje dilui-se ante as oscilações do bolso na bolsa de valores.

E, não é de hoje. Qual vate ciente da sua grandeza. Antero de Quental no seu belíssimo “Solemnia Verba” dialogara com o seu coração. Lê-se no texto do poeta:

/Disse ao meu coração: Olha por quantos/ Caminhos vãos andámos! Considera agora, desta altura, fria e austera,/ Os ermos que regaram nossos prantos.../ Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!/ E a noite, onde foi luz a Primavera!/ Olha a teus pés o mundo e desespera,/ Semeador de sombras e quebrantos!/Porém o coração, feito valente/ Na escola da tortura repetida,/ E no uso do pensar tornado crente,/ Respondeu: Desta altura vejo o Amor!/ Viver não foi em vão, se isto é vida,/ Nem foi demais o desengano e a dor.

E tu, por quantos galhos andaste nesta macaquice com que a vida nos brinda?

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