quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

que diferença faz a epiderme?

(com a gnose, que soçobra)

I

...plumas e tinta ferrogálica.

Metamorfoseando a brancura

do papel. A contragosto do que só

se revela no cume do monte. E não

na troca de olhares pelas margens

do mar. Ou nas grutas da floresta.

O cérebro esquartejado ao calabouço

do self.  Horizontes diluídos. Porque

no túnel só uma luz se via. Só um

caminho conduzia. Só para o norte

os ventos sopravam. E nada mais.

Haveria outro veneno senão a

coloração da Sua epiderme?

II

…correntes nos tornozelos. Teias

de sangue demarcando o trilho

dos tubarões. Vozes uivando

ao sabor do chicote. A carne desfeita

pelos dentes. Das ferras que antes

eram convivas. O olfato aninhando

odores da alma em combustão. Na

ovação de Entes de outras terras.

Quando os soterrados gravitavam

na bestialização. E nada mais.

Haveria outro antídoto senão

a mumificação do ethos?

III

…a ferro, sangue, fogo e outras plumas

mergulhadas em outras tintas. Desfez-se

o orvalho. Juntamente com as brumas.

Proclamaram-se os triunfos. Hozanas

hibridaram-se. Ganharam novos Entes.

Nas correntes, a carne que sobrara

alimenta os abutres. Ou os olhos

sedentos de mirar o passado.

«somos todos iguais»: é o lema.

No horizonte, as clausuras anunciam-se.

Intactas. Do Baú, artefactos retificam

a textura da Sua epiderme. Que

diferença faz, se há outros messias?

IV

…às claras, reina a Sua voz. Siavumas.

Ngomas. Thokozas. Só ao cair da luz.

Dispensa-se os sipaios: não se põe

guizo a um gato vendado.


fotografia de Renan Fillipi da Costa

Sem comentários:

Enviar um comentário