Das reações que
este debate catapultou pelo Messenger e WhatsApp consta-me que há reticências
naquele texto que precisam de ser transformadas em palavras para que o ponto
depois do et cetera seja realmente uma pausa conclusa.
A discussão sobre a
intertextualidade traz consigo a questão da originalidade e do plágio, se
calhar, pela suposta proximidade com o conceito de intertextualidade ou pela
incipiente capacidade de separar o trigo do joio.
Talvez a última
possibilidade esteja na ordem das acusações feitas aquando do momento em que a
cantora Matilde Conjo, bem conhecida na nossa praça, estreou a sua música
intitulada “Não estou a te enganar”
que, diga-se, tem uma vizinhança promíscua com o tema “Não me arranje problemas” de Mr. Bow que acaba roçando a
irmandade, pelo menos do ponto de vista rítmico ou estrutural se assumirmos que
o meu artigo foi explícito em tratar todas as produções artísticas como textos
no seu sentido lato.
Disto sucede que os
apresentadores de programas de entretenimento dos diversos canais televisivos
foram se deliciando em acusações de plágio durante um ou dois dias e, a própria
cantora não se saiu muito bem na fotografia por ter tratado o assunto com unhas
e dentes em protesto frenético pela magna originalidade negando qualquer
diálogo intertextual entre a sua música e a do conceituado Bowito: o que, cá
entre nós, é muita audácia.
Portanto, do manjacaziano
proprietário da Bowito Music não se ouviu nem um sussurro, pelo menos para a
opinião pública. Ora, sucede ainda que dois dias depois um dos autores da
acusação feita contra a Matilde Conjo reaparece dizendo que há atenuantes que
absolvem a cantora porque o suposto lesado na acusação de plágio também, em
certa medida, plagiara a estrutura textual de Big Mukada (autor dos
famosos temas “teka-teka” e “Muyengueti”).
E, assim, pôs-se um
ponto final no assunto que para mim ainda prometia gerar mais conversas-fiadas
porque se formos atentos veremos que antes de Mukada já havia estruturas
rítmicas mukadistas.
Se há alguma
discussão que se possa ter em relação a aqueles textos é, por um lado, o seu
grau de proximidade estrutural que os tornam afins e, por outro, uma humildade por
parte dos fazedores de arte em perceber que a assunção da presença de outras
vozes em seus textos não é uma renúncia à originalidade nem um sintoma de crise
cultural ou criativa.
É, portanto, esta
situação toda que a mim permite argumentar, conforme já o fiz no
supramencionado artigo, que há aqui uma relação intertextual entre este e
tantos outros textos produzidos na nossa música que retomam canções populares e
fazem delas músicas próprias sob o argumento de se estar a revitalizar a nossa
cultura.
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