segunda-feira, 14 de junho de 2021

door of no return


I

…assombra-me esta gravura

de Benim. Para exorcizar fantasmas. 

Que me sitiam a memória individual 

e comum. Porque além desta nuvem. 

Revela-se-me o mesmo azul. Que 

se decalca aos olhos da pedra 

submersa no mar.

II

…adentramos pé-ante-pé. Na mescla 

de horizontes. Mesmo com o ferro 

promiscuindo-se com a carne do tornozelo 

e do collum. Sem a bússola que reorientasse 

o regresso. Que regresso? Terão os outros 

regressado? Não será a mescla tão prenhe 

qual arte que se mumifica na rocha?

III

…ei-nos, hoje, na peleja desse regresso

à raiz. Sem que ao caule que nos segura

lancemos o olhar. Com que língua se 

expressam as árvores? Há um pranto deste 

enxertado caule que se precisa escutar. 

Raízes, quais? Não há uma singularidade, 

de facto, por resgatar neste substantivo?

IV

…pior que a lágrima amarga (exprimida

por nosso essencialismo caviar) que

abrilhanta a retina e se derrama

no mesmo chão que nosso sangue

sorveu. É o nosso easy talk abrupto 

e já vencido. Inda que tenha assombrado 

Senghor e Césaire até a exaustão. Naquela 

bruma que os enclausurou e, agora, a nós 

toma porque além da palavra, só o vazio

habita: com que antídotos se vence

o estocolmo?

V

…penso, agora, no tigre de Soyinka,

e na proclamação de que prescinde

para ganhar forma. E vejo outros tigres

(do oriente) cujas docas conhecem

o escancarar dos cais e seu fecho.

Não será esta a bússola com que

se perscruta as grutas da globalização?

VI

…e o retorno dos idos que nunca partiram

senão em narrativas. A que berço retornam?

Ouvir blues, num bar rock n’roll 

e ressonar as síncopes frenéticas de quem 

faz jazz. Transmuda a singularidade

num plural indelével e irrevogável cujo 

berço: somos nós. Com que, então, se rebusca 

a essência de um tecido feito a retalhos em Benim?

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