quinta-feira, 19 de junho de 2014

João Belo’s swing

Se há algo que nunca me faltou em vida, é o sossego. Tanto que enxertei na minha personalidade, algo a que chamaria de serenidade.
Seria um ledo engano, pensar-se que o que é dito nas primeiras linhas deste artigo revela a indiscrição de alguém que tenha nascido e criado num berço de ouro. O certo é que tal sossego no mais dicionaresco sentido do termo, foi-me sempre dado de mão beijada pela pequena e singela cidade de João Belo que por inerências ideológico-conjunturais, tomara o nome de cidade de Xai-Xai, para mim cidadela Ka ntchai-ntchai.
Para os demais, o termo cidadela pejora mas para mim, “cidadela” de pejorativo só tem nada…diria até que é um substantivo acarinhador.
Obviamente, existem motivos para acarinhar esta terra onde o sossego existe e resiste até que dois fatídicos dias se avizinhem pela anterioridade e até mesmo pela posterioridade.
Facto: 25 e 31 de Dezembro ‘baguçam’ o sossego de qualquer um até mesmo de pequenas cidades, tal é o caso da cidadela ka ntchai-ntchai.
Ao longo do ano, é só serenidade, um ambiente totalmente acolhedor e pacífico que encanta a qualquer alma dada a sossegos. É, portanto, esta a característica que me permitiria escrever sobre João Belo’s blues como quem alinha nos discursos “Mafalala blues, Lisbon blues e tantos outros qualquercoisa blues que com o tempo foram surgindo em terras minhas ou na boca de gente que viu o seu umbigo enterrado por aqui.

Entretanto, com a proximidade das datas acima referidas, o cenário é assustador aos olhos de alguém que como a mercê dum bom jazz no seu momento blues, é remetido a um repentino e desajustado swing, resultante da tentativa de improviso por parte de toda banda: é o tráfego que toma o ritmo dum camaleão ferido, são as pessoas espalhadas pelas ruas como abelhas em frenesim, as lojas tornando as suas calçadas em pistas de dança, com os aparelhos sonoros em drible como se a poluição sonora fosse uma estratégia infalível de marketing! Enfim, para quem vêm acompanhando o blues de ka ntchai-ntchai, chegar a este período é como sair da água para o vinho. 

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