Pelo
devasso vício de escrever, são várias as vezes em que nos chega a vontade de
juntar letras para falar de alguma coisa que não seja nada. Costumamos ser
felizes nisso, porque há sempre algo que sai, a que todos chamamos de texto __
mas que tipo de texto é?
Há
tipologias que são, decerto, mais fáceis de identificar, mas há outras que
partilhando uma e outra característica, acabam pondo tanto os escritores de
textos assim como os próprios leitores em encruzilhadas das quais cada um vai
se safando do jeito que lhe convier, e outros chamam a si a humildade de assumir
o equívoco provindo do seu próprio desconhecimento dos factos.
Entre
essas tipologias textuais de difícil distinção, está o par: CONTO E CRÓNICA.
Engana-se quem diga o contrário.
Numa
percepção algo pessoal, eu diria que quando o articulista cria um facto
completo e com um final determinado (ou não), com uma só acção e um só enredo, com
delimitação estática de tempo, espaço e personagens, tendo todo esse manancial
de elementos centrado num só ponto de interesse, isto é, trazido numa perspectiva
linear __ é certo que estamos perante um conto.
E, quando estamos perante um texto com cariz jornalístico-literário em que o articulista usa as palavras para dar uma breve informação (de forma menos fria que a notícia, por exemplo) ou narrar alguma situação vivida no quotidiano (podendo por vezes conter personagens), partindo duma visão meramente pessoal dos factos, numa linguagem coloquial ou próxima do leitor a que se destina, podendo estar revestida de certo subjectivismo e com grande carga humorística __ aí tudo indica que estamos perante uma crónica!
E, quando estamos perante um texto com cariz jornalístico-literário em que o articulista usa as palavras para dar uma breve informação (de forma menos fria que a notícia, por exemplo) ou narrar alguma situação vivida no quotidiano (podendo por vezes conter personagens), partindo duma visão meramente pessoal dos factos, numa linguagem coloquial ou próxima do leitor a que se destina, podendo estar revestida de certo subjectivismo e com grande carga humorística __ aí tudo indica que estamos perante uma crónica!
A
meu ver, a distinção entre o conto e a crónica reside no facto de:
a)
Enquanto o conto narra factos decorridos num tempo relativamente maior, a
crónica centra-se no presente ou num passado muitíssimo recente;
b)
Se no conto temos um enredo que começa, se desenvolve e tem (na maior parte das vezes) um desfecho, na crónica geralmente o leitor é que “faz o
desfecho que achar adequado”. Ou seja, na crónica o articulista traz uma
reflexão e sugere, de forma subtil, uma opinião e deixa espaço para que o
leitor tire suas “próprias” ilações;
c)
Em um conto, notamos que o escrevente preocupa-se com as características das
personagens (suas manias e defeitos), enquanto em uma crónica, quando não lhe
convém, se quer liga a mínima para esses detalhes;
d)
Na crónica, o escritor centra-se muito na realidade, quando no conto ele
deixa a sua imaginação “arranhar os céus”;
e)
A crónica é mais analítica e interpretativa, sobre determinado assunto, porém
menos aprofundada, o que não acontece com o conto.
Enfim,
paremos por aqui. Afinal, a política deste blog é dar ferramentas para que o
caro leitor vá “pescar” e não oferecer o “peixe” propriamente dito! Dou, a
partir de então, por aberta a discussão que promete ser acesa, porque este
assunto não é tão simples de tratar quanto pode sugerir o equívoco.
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