segunda-feira, 3 de junho de 2019

Notas soltas

I
Embora saiba que poderá recair sobre o meu comentário o qualificador “grotesco”, não me escuso de o fazer: a relação promiscua entre ler e escrever parece ser a mesma que se inscreve entre a ingestão de alimentos/líquidos e a sua expelição seja na forma líquida ou mesmo sólida (se bem que para este caso não faltem reticências). Retifico: não parece, é!
O argumento desta sentença não é meramente falacioso. Alguma verdade nisto há. Salvando raríssimas excepções, esta dualidade de actividades rege-se também pelo binómio: prazer e necessidade. 
Se por um lado, preciso de ingerir alimentos/líquidos para que o corpo não sucumba, do mesmo modo preciso de ler para que o cérebro não fique opaco e, disso, busco algum prazer no processo e embate-me uma satisfação no final.
Por outro lado, preciso de expelir o consumido (alimento/líquido) porque o organismo assim o deseja e não posso adiar do mesmo modo que preciso de escrever porque o cérebro, sobretudo a alma, assim o deseja e não posso adiar e, disso, satisfaço uma necessidade no processo e embate-me um alívio no final.
Pronto! Assim explica-se a sentença sobre a qual se encubam os escritores: não se pode formar um escritor num ser em que não se formou um leitor ou, outra mais cerrada, a escrita não é uma fonte de prazer, é uma necessidade, só a leitura o é.
II
Desde a criação do Blog rectasletras.com em 2012, fui publicando esporadicamente e sem muita regularidade os textos que da minha necessidade de escrever iam surgindo. Não sei se fora pelo famoso bloqueio criativo ou não mas verdade seja dita: passaram-se anos e ao longo deles, um texto por ano caíra nas graças dos leitores: que lástima!
Lastimável é não porque os leitores não receberam textos novos mas porque a falta de textos é sintomática da falta de leitura por parte de quem os devia produzir. Claro: só escreve quem lê e eu andei lendo pouco. 
Ora, entre ler pouco e ler muito, a relatividade é a melhor escolha porque não se conhece desde os tempos remotos um quantificador da leitura. Conhece-se sim os sinais de quem anda vagueando pelos corredores da leitura e, haja sinceridade na humildade, tenho-os frequentado e a criação do blog em 2012 surgiu mesmo da necessidade de ver estes corredores bastante frequentados pelos meus, afinal: é na leitura que se abrem os horizontes e é com horizontes abertos que se fazem sociedades cultas. 
Admito: não se fazem mais Luteros nos nossos tempos mas o Rectasletras.com acredita na necessidade de se transmitir o conhecimento que vagueia no meanstream das academias de letras tal como uma mãe ou pai administra uma papa ao seu bebê recém-nascido. É por isso que mesmo tratando de matérias que à subjectividade dizem respeito, eu sou de rectas letras. 

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