domingo, 12 de agosto de 2012

Unidade nacional na diversidade cultural

Se o discurso politicamente correcto fala de unidade nacional, o politicamente incorrecto questiona até que ponto se pode falar de uma unidade como sinónimo perfeito de homogeneidade.
Talvez para a melhor enquadramento semântico do assunto que aqui pretendemos discutir, urge trazer algumas questões basilares que vão, se calhar, cimentar o nosso entendimento do assunto.
Será que podemos usar a expressão unidade nacional no sentido de convenção? Mutua inteligibilidade dos assuntos tribais? Ligação intima? Comungar de ideias? Cumplicidade? Ou mesmo união! Afinal o que é unidade nacional? Como os elementos de uma determinada sociedade podem ser designados por unidos? O que deve  haver  de comum ou de diferente e com que grau para que se cunhe o termo de forma pura e consensual? Ou talvez o termo certo para nos referirmos a uma sociedade que em muitas vezes se caracteriza por diversa nos seus variados aspectos seja “convenção”(convenção Nacional).

Desde a independência para cá, se tem falado de exaltação do sentido de dever ou o exercício são e consciente do patriotismo como parte do processo de construção da nação a qual aqui discutimos sua unidade na sua diversidade multicultural.
Em questão de unidade, é possível apaziguar as diferenças (culturais) e nos unirmos em torno de um objectivo e com isso nada mais nada menos saímos a ganhar mas a celebrar com vigor a razão da nossa tolerância e acreditamos que cada um de nós principalmente a juventude pode cimentar esta unidade na diversidade cultural procurando na sua diversidade unificar o sentido de unidade que Eduardo Mondlane sonhara  quase meio século.

Muitos poderiam ser os exemplos que aqui poderíamos trazer como resposta que qualquer cidadão deste país nos daria por hipótese a questão: quais as marcas que a seu ver caracterizam unidade no país? Se calhar logo a primeira nos seriam os símbolos (bandeira, o emblema, o hino) e depois o metical , a língua (Português). E depois? A tocha? Os valores tradicionais? As nossas línguas nativas? Os nossos hábitos, usos e costumes? Enfim a nossa cultura?    
Ao falar do patriotismo, implicitamente nos referimos a  aceitação pura e sem questionamentos envolto  à agenda  nacional.
Se em paralelo com a unidade solicitamos um comungar da agenda nacional fica aqui claro que urge por conseguinte eliminar as assimetrias regionais, o tribalismo, egocentrismo (mais no sentido do individualismo), a exclusão ideológica bem como a distribuição desigual da riqueza e poder ou de oportunidades - inimigos dum estado com uma constituição que prima pela abrangência.
Olhando para o pódio do texto ”unidade nacional na diversidade cultural”; o que desencadeia o carácter inquietante da questão não é a falta de unidade. Talvez ver mesmo o que o vocábulo unidade nos dá como significado. Segundo Dicionário Universal de Língua Portuguesa o termo significa qualidade do que é uno, ou seja exclusivo, sem igual, que é só um, aliança,  pacto,etc.
Pegando fielmente no iten “pacto”ou “só um”, falar de unidade, parcialmente deixamos de fora a questão cultural, pois parece este não seleccionar naturalmente elementos como unidade cultural (aqui nos deparamos com o sentido de identidade e pertença onde elementos de estigmatização são notáveis quase em todos os tempos. 

  1. Os do sul ainda no sentido pejorativo entre eles chamam-se de manhambanes cacatas e machanganas confusos; os do sul para com os do norte xingodos escuros e rebeldes); 
  2. Desigualdade de oportunidades e acumulação exacerbada de capital por parte de quem o detém sem se importar com os seus compatriotas;
  3. Acumulação de altos cargos, visão do outro como inimigo enquanto for de ideologia partidária beligerante e por isso tem de ser aniquilado;
Intencionalmente, o elemento linguístico no caso a língua Portuguesa, é por excelência um exemplo de unidade tendo em conta o próprio processo da construção da nação moçambicana, prende-se com  o assumir do Português como língua de unidade nacional visto que desde os primórdios, os autores da nossa independência perceberam que a questão da diversidade linguística nacional poderia ser um entrave na definição da então agenda única para os moçambicanos.
Olhando para o Português como língua oficial, podemos visitar os critérios de R.Bell para a definição de uma língua como oficial por conseguinte, deve obdecer:

  1. Padronização - (que se prende com a unificação do que existe de forma escrita bem como o funcionalismo da língua que no nosso contexto não nos diz muito pois herdamos o Português como elemento de aculturação embora  nos dias que correm se fale da nativização da língua;
  2. Historicidade - (a língua enquanto símbolo de identidade);
  3. Autonomia e normas de facto (o sentir-se bom ou mau falante).
Nota-se não só no texto mas também do texto para fora (realidade) um certo paradoxo intencional, que sugere um assumir de posicionamentos que depende ao de tudo do discernimento lúcido do nosso alocutário.
Se por um lado se pode discutir com uma certa mestría mas sem dogmatismo algo  sobre o tema em analise, percebemos que a língua é um elemento incontestável  para a construção de uma identidade bem como da unidade de um povo, pois a maneira como vemos e vivemos o mundo é fortemente influenciada pela língua que usamos porque com ela categorizamos os objectos da nossa cultura e o mundo onde nós vivemos é em grande parte construído pelos hábitos linguísticos do grupo cultural, entendendo cultura na perspectiva de Hudson (1990), como conhecimento apreendido dos outros ou conhecimento que alguém possui por ser membro de uma sociedade que por sua vez pode ser conhecimento cultural adquirido. 
De um modo geral, o objectivo deste texto não é pôr em causa as convicções nem as crenças do alocutário, mas sim desencadear um assumir  de posições discursivas com todo discernimento e lucidez na expectativa do possível, pois é essa lucidez que se pede aos leitores que permite o exercício pleno da cidadania.

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